quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Ferrovias 14 - Memórias ferroviárias

* Victor Nogueira 

Outrora, enquanto estudante, viajava muito de comboio, nas minhas deslocações entre Évora, Beja, Lisboa, Porto e Setúbal ou Paço de Arcos e algumas vezes a Sintra. Depois, durante anos, nas minhas deslocações de e para o Barreiro, onde trabalhei, ou entre Lisboa / Porto (Mindelo) e regresso. Dalgumas dessas viagens ficaram registos epistolares e fotográficos, como os que transcrevo.

Nesses tempos a CP anualmente organizava o Concurso das Estações Floridas, posteriormente substituído pelo Concurso das Estações Ferroviárias Bem Cuidadas, que englobava também apeadeiros.  

Em 1960 e em 1962 o 1º prémio foi atribuído à Estação ferroviária de Elvas. Nas minhas andanças em Portugal de lés-a-lés tive ocasião de visitar inúmeras estações ferroviárias, fazendo registos fotográficos dos painéis de azulejos de muitas delas: Avis, Bombarral (não), Cabeço de Vide-Vaiamonte, Caldas da Rainha, Castelo de Vide, Elvas, Estremoz, Évora, Fronteira, Marvão (Beirã), Montemor-o-Novo (não), Óbidos, Outeiro (Torres Vedras), Pinhal Novo,  Portalegre, Marvão, Porto (S. Bento), Ribeira de Santarém, Rio Tinto, S. Mamede Infesta, Setúbal, Sines.

Estação ferroviária de Elvas - prémios

Muitas das estações da CP por esse Portugal fora tinham pequenos jardins floridos e painéis de azulejos com cenas de vida, paisagens e edifícios da região circundante. Nesse tempo apenas encontrei uma degradada e com os painéis de azulejos arrancados, a de Cabeço de Vide-Vaiamonte o que me causou tristeza, pois fora a 1ª que assim encontrei.


Do Lobito a Nova Lisboa, em Angola


Locomotiva dos CFB [Caminhos de Ferro de Benguela] - Foto jj castro ferreira

Embarcámos no comboio na 4ª feira à tarde. A carruagem estava reservada aos estudantes do Porto [Orfeão Universitário] e tivemos de procurar outra. Por fim tudo se arranjou. Os estudantes ocuparam o refeitório fazendo dele, alguns, sala de estar. Só conseguimos jantar às 10. (...) A paisagem até Nova Lisboa é encantadora. Como 500 metros para cada lado da linha pertencem aos CFB [Caminhos de Ferro de Benguela]; quase todo o percurso até à fronteira está ladeado de eucaliptos [que servem de combustível aos comboios e para fabrico de pasta de papel], segundo o que me disse o revisor da carruagem que durante a viagem me prestou muitos esclarecimentos. Antigamente a linha passava por florestas que foram abatidas para combustível às locomotivas de maneira que a Companhia fez o repovoamento florestal com eucaliptos. (MNS - 1962.08.24)

NOTAS À VIAGEM DE COMBOIO - Foi uma pena a viagem ter sido feita de noite. Como a linha férrea é a subir, abrangem se grandes distâncias. À noite as fagulhas oferecem-nos um aspecto curioso. O pessoal dos C.F.B. é muito atencioso e correcto. No Lépi há um rochedo com a forma duma cabeça de elefante, daí lhe vindo o nome de “TROMBA DE ELEFANTE”. O ponto mais alto da linha férrea fica a 1894 metros de altitude. (...) (Diário III - pag. 17/18 )

Não estou de acordo com o que disse acerca das fagulhas do comboio. Eu fiz a viagem quase toda ou na varanda da carruagem ou à janela. (Eu gosto de ver por onde ando). Tirando a cara e a camisa cheia de fuligem, nada me sucedeu; fiquei encantado com a paisagem, como já lhe devo ter dito. Na verdade, esta é muito melhor que as do Norte [de Angola], que eu conheço. (ASV - 1962.09.24)


Na Linha do Oeste: do Porto  a Monte Real

As carruagens do comboio da Linha do Oeste são antiquadas e as do Caminho de Ferro de Benguela [em Angola] são um pouco melhores. Passámos em Francelos, onde há um sanatório para doenças dos ossos. Perto de Aveiro, os campos têm pinheiros e milho. Em Coimbra nada vi, pois a estação velha não fica na cidade. De Coimbra a Monte Real vim a conversar com um sacerdote franciscano, bastante falador. O Rio Mondego estava quase seco. Havia muito arroz e oliveiras. Chegámos a Monte Real cerca das 17:30.  (1963.08.26 - Diário III)

Fotografia victor nogueira - Estação ferroviária de Óbidos - painel de azulejos (castelo)

Muitas das estações [Linha do Oeste] tinham bonitos jardins. Em Óbidos vimos o Castelo, que é enorme. Salvo erro a vila ainda se encontra dentro das muralhas. (1963.09.8/9 - Diário III)


De Lisboa ao Porto

Às 8:30 tomámos o rápido da linha do Norte. Caía uma chuva miúdinha e no céu via-se um lindo arco‑íris. Matabichámos no bar da estação de Santa Apolónia, em Lisboa, que é original, com motivos do caminho de ferro.

À saída de Lisboa passámos por um aeródromo militar. Monte Real  era sobrevoada por aviões a jacto, da Base Aérea 5. A primeira paragem foi em Santarém. As cadeiras da automotora são mais espaçosas que as do rápido. Às 9:40 chegámos ao Entroncamento, a terra dos fenómenos. Ia tão entretido a ler que, entre Fátima e Pombal, passámos por um túnel sem eu dar por isso.

Antes de Pombal passámos por um outro que estava em obras. Nesta altura chovia.

Às 11:10 chegámos a Alfarelos e pouco depois à estação de Coimbra B. O rio Mondego estava quase seco - e é um rio importante do continente! Passámos por Pampilhosa da Serra (11:43), Cúria (11:50), Aveiro (12:18), Estarreja, Ovar, Espinho, Granja (13:05), Vila Nova de Gaia (13:25), Campanhã e S. Bento (13:50).


Foto victor nogueira - Estação ferroviária de S Bento, no Porto

Na nossa carruagem seguiam 4 indianos que deveriam ter saído em Coimbra, mas por ignorância (passaram lá sem saber) não o fizeram e resolveram seguir até ao Porto. Muitas das estações do percurso tinham bonitos jardins. (1963.09.11 - Diário III)


 De comboio: pela linha do Norte

1. - No comboio, a caminho de Lisboa, pedi a um dos meus companheiros de viagem que me emprestasse as "Modas e Bordados" para folhear, pausa na conversa que mantínhamos desde o Porto. Agora o dia está maravilhoso e cheio de sol. (No Porto chovia a cântaros) Há já um bom bocado que deixámos Coimbra. O comboio desliza rápido, tac-tac, tac-tac. deixando para trás campos verdejantes, olivais e vinhedos, pinhais, alguns deles alagados, e casas dispersas na paisagem. Os meus vizinhos de compartimento dormitam, enquanto a sineta toca para o almoço. Daqui a uma hora chegaremos a Lisboa. (...) 

Os companheiros de viagem: a sra. D. Alice, ar aristocrático, minha velha conhecida do Porto, cheia de vivacidade, apesar da idade, rosto quadrado, sanguínea. O outro, desconhecido, deve ser um homem ligado à actividade comercial, pelo modo como veste e pelos apetrechos: óculos e lapiseira no bolso do lenço no casaco, pasta. Veste com pouca elegância, fato de um tecido acastanhado mesclado de azul e vermelho, colete cinzento de malha, gravata preta com duas listas - uma encarnada e amarela, estreita, outra mais larga, verde, junto ao nó. Sapatos castanhos, mal engraxados. Afinal a pasta continha um farnel embrulhado num guardanapo dentro dum saquito de plástico, que ele come, e que me ofereceu. (Isto faz‑me lembrar que tenho de ir ao bar comer uma sandes).

A D. Alice, o [jornal] "O 1º de Janeiro" nos joelhos, dormita, a cabeça apoiada na mão. Queixa‑se do frio, mas aqui para nós ainda bem que desligaram o aquecimento, pois isto já era um forno.

Chegamos ao Entroncamento - são 12:40. Por causa das obras na linha, penso eu, o comboio vem atrasado. As casas, blocos uniformes, regularmente monótonos, as linhas, cruzando‑se e divergindo, cheias de carruagens, vagões e locomotivas, são uma nota diferente na paisagem, que desde há uns bons quilómetros é mais árida que no princípio da viagem. A linha férrea é uma ponte nos campos alagados, com água barrenta, levemente ondulada. Solitariamente, pequenas ilhas, renques de árvores de ramos desfolhados, cujos nomes desconheço. Já não se vêm no entanto árvores cortadas e oliveiras deitadas no solo, raízes desentranhadas pela força dos ventos, que no Porto e nos últimos dias sibilaram noites seguidas, infiltrando‑se pelas frestas das portas e janelas. Gostaria de andar num barquito por esses campos alagados. (NOT - s/data 1972/73 ?)


2. - A viagem decorreu bem, embora maçadora. No compartimento, além de mim, viajavam dois rapazes sisudos e calados e uma rapariga, que não tinha culpa de ser feiosa e fortezita! Ia mesmo sentada à minha frente mas, contra o meu costume, não trocámos uma única palavra. Pensando bem, ela não era tão feiosa como isso, até tinha uns lindos olhos azuis e um sorriso bonito. Só sorriu uma vez, quando eu, com um ar muito circunspecto, fingia admirar a paisagem; eis senão quando aparece um malandro dum comboio, sem avisar, às apitadelas, que me fez dar um salto na poltrona. A muito custo lá consegui assumir um ar de dignidade ofendida, embora a vontade de rir fosse grande. Bem, lá chegámos a Lisboa, onde chovia a potes. Táxis, nem sombra; os que apareciam eram logo anexados. Mas... enquanto há vida há esperança e sempre apanhei um! (ASV - 1968.04.19)




3. - Cheguei ontem à noite, depois duma viagem chata e atribulada. (...) A viagem foi chata porque 6 ½ horas num comboio é demasiado ... para um homem sozinho. Vim ao Porto para representar o ISESE numa Reunião Geral das Direcções Associativas (Movimento Associativo Estudantil). Vínhamos no comboio que saía de Santa Apolónia (Lisboa) ás 15h 17m, mas a malta acabou por mudar a correr para o comboio das 15:10, para ir o maralhal todo junto. Eis senão quando, o comboio já em marcha, dou pela falta da bolsa, (1) com o livro de endereços e a máquina fotográfica. Uma conversa com o revisor fez-me apear na estação seguinte, para apanhar o primitivo comboio.  Mas se a carteira lá ficara, o facto é que alguém a abafara. A esperança não é muita, mas pode ser que alguém a  tenha encontrado na estação (Santa Apolónia) e esteja nos "Achados".

Em Aveiro a corrente eléctrica foi abaixo e lá ficou o comboio parado e eu cheio de sede e de fome, a ver que íamos ali passar o resto da noite! Lá para as tantas entrou o "Foguete" na estação, rumo ao Porto. Vai daí, eu e mais alguns expeditos mudámos para ele, e assim consegui viajar confortavelmente, em poltronas estofadas e com aquecimento (1ª classe), conseguindo chegar ao Porto à tabela, i.e, ás 21:30, sem pagar bilhete. (Soube depois que o resto da malta, do outro comboio, só chegou depois das 23:00). Enfim ... (MGG - 1974.09.22)

(1) Embora normalmente encontre tudo o que perco, não me lembro se esta foi a excepção que confirma a regra, isto é, se perdi mesmo a bolsa e o seu conteúdo.


4. - Da ria recordo um canal singular, o Côjo, com barcos multicolores ancorados ao longo dos cais. Foi uma desilusão esta visita à chamada Veneza portuguesa. E de Aveiro (ou será de Ovar?) recordo os vendedores que invadiam a carruagem do comboio, apregoando jornais, bebidas e... doces de ovos moles, em pequenas barricas de madeira. Dos moliceiros, barcos característicos da região, não encontro rasto, pois encontram-se em vias de extinção e para a busca não chega o tempo.

A ideia da Veneza portuguesa deverá resultar não dos inexistentes canais que atravessassem a cidade mas das inúmeras ilhas existentes na foz do rio Vouga. (Memórias de Viagem, 1997)

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5.  - A chegada a Santa Apolónia era precedida pela lezíria, por vezes inundada, pelo rio Tejo aqui ou ali entrevisto, até começar a paisagem industrializada e desgraciosa desde Vila Franca de Xira, e zona oriental de Lisboa, com o seu emaranhado de linhas férreas.   (Notas de Viagens 1997.11.16)



A caminho de Sintra

1. - Uff! Que calor!  Até parece o Abril em Luanda! Hoje a temperatura baixou um pouco mais, em relação aos dias anteriores. Mas mesmo assim... O ar está seco e quente; sinto-me pegajoso, indisposto. Calor, só calor; nem uma leve brisa para refrescar; quando corre não é senão um bafo quente. As engrenagens cerebrais estão emperradas, o raciocínio faz-se ao retardador! A casa é um forno, a rua um inferno. Nem sequer tenho tido coragem de ir à praia, não obstante a sedução dum mergulho infindável nas águas do oceano, melhor, do Tejo.

Ontem fui com o Manel até Sintra A viagem de comboio, na ida e na volta, foi um suplício. Mas lá, meu Deus, que paraíso! Um parque aprazível, o rumorejar da brisa por entre as ramagens, a quietude, o sossego! Por lá ficamos largos momentos, eu com a "História da Música Europeia", O Manel com "O Pequeno Lorde" (NSF - 1968.07.24)


2. - Aqui atrás de mim duas velhotas filosofam sobre as misérias dos católicos (parecem‑me beatas e quando entrámos [no café à beira da estrada] estava uma desabafando: "o que nós fomos e ao que chegámos! " (...) O comboio de Sintra desliza lentamente lá em baixo no vale. A sandes de presunto e queijo estava saborosa. (1974.01.02)


3. - Sintra - São 3 as janelas gradeadas com vista soalheira e verdejante, num amplo salão, que me dizem ter sido a cadeia de Sintra, talvez em tempos medievos, atendendo a um arco ogival cuja vetustez não garanto, perto das Escadinhas de Lord Byron (o poeta romântico), e do hotel Lawrence (fundado em 1764) - não o das Arábias e dos "Sete Pilares da Sabedoria", livro cuja leitura vivamente aconselho, onde o deserto surge cheio de vida e diversidade paisagística, nada tendo a ver com o do célebre filme de David Lean interpretado por Peter O´Toole.  

(...) Há muitas décadas que não ia a Sintra de comboio e a estação cheia de barreiras para controle de  blhetes dos passageiros já não é o que era. Mas, adelante.  (2015.05.26)


Viagens ferroviárias no Alentejo

1. - A CHEGADA A ÉVORA - Ao fim duns vinte minutos foi a chegada a Évora. Após alguns infrutíferos telefonemas feitos dum barzeco existente junto à estação, consegui arranjar um quarto na Pensão Eborense. Começara pelas pensões de 2ª classe e estava a ver que terminava no hotel de luxo. Mas Deus Nosso Senhor teve pena da minha bolsa! Entretanto os táxis tinham debandado. Sabendo que a pensão ficava a cerca de 1 km e porque a noite estava amena, pus o saco da TAP a tiracolo e pés a caminho. (...) . (NSF - 1968.09.09) 


Foto victor nogueira - Estação ferroviária de Elvas (Porta de Olivença e relógio)

2. - Apanhei o barco para o Barreiro às 19 h 30 m e depois de meia hora de secagem na outra margem, o trem lá partiu às 20 h 30 m. Na carruagem, além de mim, uma rapariga magra com um chapéu de palha roxa ou lilás, de feitio esquisito (parecia um outeiro circundado por uma vala, pois as abas estavam viradas para cima; muito vagamente assemelhava‑se ao barrete dos marinheiros rasos), um padre (que saiu a meio do percurso) e um rapaz de camisola branca (que seguiu para além da Casa Branca). O comboio parou em tudo o que era estação ou apeadeiro. A luz na carruagem era para alumiar mortos, pelo que nem ler pude. Só quase no fim da viagem descobri como acender as lâmpadas individuais, por cima de cada poltrona. Chegámos a Casa Branca cerca das 23 h 15 m. Aí tivemos de mudar para a automotora, pois o comboio seguia para Beja. Que transição entre a carruagem deste e o compartimento daquela (viajava em 1ª classe). Um forte e incomodativo cheiro a gasóleo, as poltronas cobertas com panos sujos, amarfanhados, mal colocados. Ao fim duns vinte minutos foi a chegada a Évora.(NSF - 1968.09.09)


Passe da empresa de transportes rodovários A Transportadora Setubalense, de João Candido Belo, comhecida simplemente comos "Os Belos"

3. - De Évora para Lisboa pode ir-se por estrada e por caminho de ferro. De camioneta ou de automotora, o tempo gasto no percurso é sensivelmente o mesmo: umas 3 h 30 m. A camioneta, embora mais enfadonha, é mais barata. A empresa [João Cândido Belo] concede cartões de estudante que permitem obter 50 % de desconto entre a localidade de residência e a de estudo e vice versa, no meu caso entre Lisboa e Évora. O comboio em 1ª classe fica à volta de 70 a 80$00 e a camioneta, com desconto, 20 a 30$00. (NSF. 1970.05.17)


Setúbal - Igreja de Santa Maria da Graça (postal ilustrado - colecção VN)

4. - Um novo postal para a colecção do Zecas, este de Setúbal, onde vim passar uns dias em casa do Dr. Armindo Gonçalves. A igreja da foto tem um aspecto vagamente hispânico, mexicano {Igreja de Santa Maria da Graça]. Dei hoje uma volta pelo centro da cidade, sem ficar a conhecê-la. Tenciono ir a Lisboa 2ª de manhã, para tratar de alguns assuntos e à noite regressarei, de comboio, ao burgo alentejano. Chegada prevista lá para a meia noite, como é costume. Estou a escrever-vos de casa duma amiga minha, a mesma em casa de quem passei parte das férias da Páscoa há dois anos. (NSF 1970.10.24)


5. - Daqui a pouco vou almoçar depois de fazer uma visitinha à tia Esperança. O casal Armindo Gonçalves e a Conceição enviam cumprimentos e saudades.

Está calor e estou cansado de andar com o saco. De manhã estive na Livrelco onde comprei uns livros. Logo, enquanto faço horas para o comboio, tenciono ir ao cinema ver “O Cerco”, de Cunha Teles. Amanhã começam as aulas. Saí de Évora há apenas dois dias e já parece uma eternidade. (NSF 1970.10.26)



6. - Cheguei a Évora no sábado, como de costume no último comboio. Foi bom voltar de novo ao meu quarto, estar entre coisas familiares, de janela escancarada - apesar do frio que entra me parecer uma brisa fresca e acariciante. Mas o encantamento foi sol de pouca dura. Amanhã entro no quarto de século de existência e sem disposição, nenhuma, para suportar comemorações "familiares" em casa da D. Vitória. Entediam-me aqueles chás com bolos, com as pessoas todas reunidas à mesa e com as quais pouco ou nada sinto em comum. E ser eu o homenageado. Que bom se nada se realizasse! (NID - 1971.01.04)


7. - (...) O ter estado a reler as tuas cartas foi causa de tentar estar contigo, neste fim de tarde eborense; contigo, figura furtiva debaixo dos arcos [arcadas] cheios de gente (antes de conhecer-te), miudinha de casaco azul e ar agarotado (travesso? expectante?) na estação dos comboios em Évora, num dia chuvoso  de inverno, voz alvoraçada, os óculos escuros, a serenidade, a alegria ou o encantamento nos degraus da Igreja ou ao longo dos caminhos, as mãos e os lábios que se procuram, a espontaneidade. Alegria!

De ti quero recordar tudo isto. O florir do desencontro, apesar da dor na alma, da angústia pela minha inautenticidade. Recebe-a, amiga, a cento e tal quilómetros de distância, separados por mil e uma barreiras criadas por nós.  (NSM - 1971.12.01/03)


Foto Victor Nogueira - Lisboa - cacilheiro no rio Tejo 1976 

Olho para o Tejo à minha frente, cintilante como prata. Um ferry-boat acostado espera por ninguém, enquanto barcos sulcam o rio e gaivotas esvoaçam sobre ele. O autocarro vai‑se enchendo, ouço os passos das pessoas que sobem para o 2º piso, o lugar ao lado do meu é ocupado por uma senhora idosa, de preto. O cobrador diz que já não há mais lugares e dentro em pouco o Tejo ficará para trás.(MCG - 1973.01.02)


Passe da CP para viagem Évora / Lisboa e regresso, válido de 1972.12.29 a 1973.01.07, para prestar provas para um concurso para programador informático da CP

8. -  Tac tac - tac tac - tac tac, cá vou eu a caminho de [Évora] num comboio ronceiro que espero chegue à tabela. Ao chegar, às 21:30, a falta de táxis e o excesso de "chegantes" fizeram com que o Régua e eu pegássemos nos respectivos sacos e mochilas rumo, um ao fim da Rua dos Mercadores, outro ao princípio da do Raimundo. Embora os sacos não fossem pesados, são incómodos de transportar, pelo que a meio do caminho eu protestava contra as minhas brilhantes ideias e murmurasse para com os meus botões acerca da minha fartura de mim e da muita paciência que eu tenho para aturar-me. (MCG - 1973.01.04)


9. -  Entre Beja e Évora - No jardim de Beja, às 18 e 30 da tarde, a uma mesa do Deck Bar, o saco de viagem ao lado, aguardando a partida do comboio para Évora. (...) Pessoas conversam sentadas a outras mesas; além dois alemães de que não pesco nada. (MCG - 1972.08.01)

Tudo já está para trás por enquanto. O comboio chegou com quarenta minutos de atraso e foi tomado de assalto pela mini-multidão. Uma senhora abusava da sua condição feminina e furava e empurrava à busca de um lugar. Fiquei sentado junto a um rapaz magro, alto e barbudo, muito preocupado com o casaco (novo ?) que as irrequietas miuditas da frente teriam sujado com os pés. Numa estação qualquer [a caminho de Évora] entrou uma rapariga de ar assustado, carregada de cestos, que ajudei a colocar no comboio; em vez de sorrir-me e/ou agradecer‑me pediu‑me desculpa com um ar tímido e assustado, que a não largou o resto da viagem. [Como sempre] fiz a viagem debruçado na porta escancarada, como adoro, o vento a bater‑me na cara. (MCG - 1972.08.02)


Foto victor nogueira - Estação ferroviária das Caldas da Rainha (relógio)

10. - "Atenção, senhores passageiros, o comboio estacionado na linha nº 2, com destino ao Alentejo, vai partir dentro de momentos." A voz no alto-falante cala‑se. Devem ser quase 19:05. Ei‑las. Um, sacão, um rolar suave, cada vez mais rápido e [compassado], tac-tac, paredes, comboios, postes, linhas e luzes deslizando pela janela. O cobrador vem "revisar" os bilhetes (ena, que rapidez!). Mudo de lugar, pois o revisor diz‑me que não pode ligar a luz por cima de mim; entretanto dois passageiros foram recambiados para a 2ª classe. Perto de mim um homem lê um livro de histórias aos quadrinhos, tira o casaco e dá‑me uma ideia que aproveitarei daqui a pouco, pois está calor. Estou com sede e é pena o comboio não ter bar. A luz da carruagem - que sacoleja muito - é fraca, quase de velório.

(...) Apitam comboios e ouvem‑se vozes altas. São 21:05 em Casa Branca, onde acaba de chegar o comboio de Beja. As carruagens para Évora já estão separadas das que seguirão para aquela cidade. O cais está molhado e deve ter chovido para estas bandas. O bar da estação continua a mesma confusão no atender dos clientes, que sempre lhe conheci: a malta amontoada ao balcão corrido de mármore, molhado do pano gorduroso que o "limpou". O homem afadiga‑se a vender bifanas, cervejas, refrigerantes e cafés. Atende‑nos sem critério, na sua calma fleumática, atropelando a ordem de chegada. Os fregueses impacientam‑se, nervosos, um olho no patrão, outro no comboio, não vá este desandar inopinadamente. Finalmente o comboio põe‑se em marcha e balança mais que navio em mar tempestuoso (NID - 1974.01.09 - ?) ([1])

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[1] - As viagens faziam‑se em carruagens velhíssimas, como refiro a propósito doutra viagem.  Carruagens sem aquecimento, com bancos corridos, cada um com portas laterais nos extremos, como se vê nos filmes dos anos 40. Havia dessas carruagens também na linha Barreiro - Setúbal. Quando a viagem para Évora era nocturna, na Casa Branca havia apenas uma sala gélida à espera para recostar o corpo e um bar fechado para aconchegar o estômago. A automotora do troço Évora-Casa Branca tresandava sempre a gasóleo, com luz nocturna de velório,  e os bancos primavam pela sujidade, incluindo as poltronas da 1ª classe, com uns panos para recostar a cabeça outrora brancos mas encardidos por falta de lavagem.

11. - Évora é uma cidade estúpida. 6 meses de ausência (e se calhar a saturação de 6 anos) fazem-me ressaltar toda esta falta de dinamismo, de interesse, de imaginação. É um encolher de ombros, um arrastar-se pelos cafés, um encostar-se pelas paredes, um nada ter que fazer ou para onde ir. Uma perfeita estagnação. Talvez que um tipo tendo casa e emprego, a coisa se torne menos monótona. Mesmo assim, acho que preferia mil vezes Setúbal. Tem mais movimento e não parece uma ilha como este burgo medieval. (...) Soou agora o apito do comboio da meia noite. (MCG - 1974.11.28)

12 . - Pouca terra, pouca terra, cá vai o comboio para Évora. (...) Despachei as malas - vêm no furgão, mas o saco com os livros pesa muito. Ali duas velhotas discutem as vantagens de ser criada de servir: ganham bem, vestem os vestidos da senhora, não gastam nada. Uma vida de fidalgas. Opiniões! Há pouco discutiam a nudez: passar aí um homem todo nú, que falta de moral e patati patata. Eu rio-me a bandeiras despregadas e ela mete-se comigo. (MCG - 1974.12.10)


Na linha do Estoril


Foto victor nogueira - Estação ferroviária de Paço de Arcos

1. - ( ...) Depois dum lanche frugal, apanhei a camioneta para Cacilhas, depois o ferry-boat para o Cais do Sodré e o comboio para Paço de Arcos. Só me faltou andar de avião. Em Setúbal reconheci o Zeca Afonso. Refreei o impulso de perguntar-lhe "Você é que é o Zeca Afonso ?" e deixei-o seguir para um café da Praça do Bocage. (MCG - 1972.12.29)


Um "cacilheiro", em Lisboa, cerca de 1976

2. - Às 14:30 apanharei [em Évora] boleia do Pintassilgo (e da miúda) rumo a Setúbal, onde apanharei a camioneta para Cacilhas, aqui o ferry-boat para o Cais do Sodré e lá o comboio para Paço de Arcos. Em lá chegando à estação, olho para as malfadadas escadas [escadaria], atravesso a linha, subo-as e ala pela Rua Conde de Alcáçovas abaixo, por entre as árvores que a ladeiam até ao fundo, onde viro à esquerda dando de caras com o nº 1 da Rua de Macau. (1973.08.03)


3. - O tempo está húmido e frio e quando cheguei de Lisboa estava farto da viagem e da constipação (...) No comboio duas raparigas - especialmente a que se chamava Nani - tentaram provocar conversa - as deixas foram muitas - mas sem grande resultado. Não sei o que seriam: empregadas de escritório, operárias ou qualquer outra coisa. A máquina de discos aqui doutro café da rua principal de Paço de Arcos transmite qualquer coisa barulhenta e desconchavada cujo estribilho é "Oh Mary". Não vale a pena a troca, pois aqui também não há pregos nem leite. Tenho mesmo de ficar mal jantado. (1974.12.26)


Foto victor nogueira - Estação ferroviária do Cais do Sodré, em Liaboa

4. - P'ráqui estou num café no Cais do Sodré. Os autocarros e os eléctricos passam lá fora na rua. O ambiente está ruidoso e o tempo ameaça chuva. A sandes e o galão estavam uma merda. (São 18:30 de sábado) (...) Parece que vai chover. Esperemos que consiga chegar a casa antes do aguaceiro, pois não trouxe guarda‑chuva. (...) E por aqui me fico hoje. Tenho de ir apanhar o comboio [para Paço de Arcos]. Não avisei que ia jantar e vai haver sermão, pois não contam comigo. (MCG - 1974.10.19)


5. - Já era tarde para jantar em Paço d'Arcos e dei uma volta, acabando por vir parar a um restaurantezeco aqui no Cais do Sodré, mesmo na rua dos bares e das prostitutas. Na cadeira ao meu lado ronrona um enorme gato. (MCG - 1975.03.25)


6. - Amanhã regresso a Évora com o João Lucas. Vim ontem com o Viegas e a Violete; chegámos já tarde a Lisboa, onde jantei na tasca habitual lá para o Cais do Sodré, onde passeia o "bas fond" cá da cidade: prostitutas, chulos, clientes e chuis.  (1975.06.29)


De Coimbra a Lisboa


Foto victor nogueira - Na estação ferroviária de Coimbra em 1976 05 11

Foto victor nogueira - Estação ferroviária de Coimbra, em  1975 12

Foto victor nogueira - Na estação ferroviária de Coimbra, em 1975 12

Postal ilustrado das Campanhas de Alfabetização, em 1975 (Colecção VN)

Cá vou de regresso a Lisboa, num comboio cheio mas onde consegui arranjar um lugar sentado. Os meus companheiros de cabine dormem e um deles ressona beatificamente. Este postal é - creio - uma fotografia retirada dum dos dois filmes que há dias vi sobre as campanhas de alfabetização, as tais em que eu gostaria de ter participado em Agosto último se... Esta cena do filme era comovente: uma mulher que até aí não sabia comunicar por escrito, conseguir fazê-lo. A procura das sílabas, o gesto hesitante, o voltar atrás para corrigir ou desenhar melhor a letra!!! Deve ser bestial um tipo descobrir que sabe ler! (MCG - 1974.11.17)


Do Pinhal Novo a Setúbal


Foto victor nogueira - Na estação ferroviária do Pinhal Novo, aguardando o comboio para Beja

Resolvi sair aqui para apanhar o comboio para Setúbal. (....) Aguardo que me tragam o galão claro e a sandes de fiambre. Entretanto, nem de propósito, as mesas estavam cada uma com seu papelinho. (1) (...) Pelo vidro da montra do café avista-se o edifício da estação dos caminhos de ferro: conto 4 chaminés, enquanto se cruzam um miúdo de bicicleta e um tractor com atrelado. Um vasto rossio de terra batida estende-se lá fora, rodeado de casas caracteristicamente incaracterísticas. Lá ao fundo, uma mata enfezada e amarelecida. Alguns carros parados e pessoas sentadas pelos bancos. O café do leite sabe mal. No largo uma igreja por caiar, um coreto e um parque infantil, tudo com um ar desgracioso. 

Aqui no café as pessoas jogam à "batota", ali num canto, enquanto outras duas estão lendo os jornais. Um outro personagem, atarracado, de boné e óculos, vai vasculhando a carteira e lendo os papéis que dela retira. Por trás de mim ouço vozes e algaraviada, bem como os tacos batendo nas bolas de bilhar. O casaco incomoda-me, pois tolhe-me os movimentos. Sinto-me encalorado. (...) São quase 17 horas e daqui a 10 minutos é o comboio. Farto-me de percorrer um Portugal desconhecido. (1974.11.28)

(1) Trata-se de convocatórias policopiadas para uma sessão de esclarecimento e dinamização cultural da 5ª Divisão do MFA, em 29 e 30 Novembro 1974, que utilizo para escrever no verso.


Do Barreiro a Setúbal


Foto victor nogueira - Estação ferroviária fluvial do Sul e Sueste, em Lisboa

Foto MNS - Na estação ferroviária do Sul e Sueste, em Lisboa

Foto victor nogueira - Na estação ferroviária do Sul e Sueste, em Lisboa

Foto victor nogueira - No ferryboat, atravessando  o Rio Tejo, em 1976

Foto Victor Nogueira - Barreiro, 1980


NO COMBOIO PARA O BARREIRO
 
Do Barreiro a Setúbal
corre o comboio
sobre os carris
faz que anda mas não anda
tatatata-tatatata-tatatata
tatatata-tatatata-tatatata
chiam as rodas
na estação
Sai
      gente
entra
soa o apito
estremece o comboio
tatatata-tatatata-tatatata
tatatata-tatatata-tatatata
tatatata-tatatata-tatatata
É de inverno
entra o frio
É de verão
abafa o calor
tatatata-tatatata-tatatata
tatatata-tatatata-tatatata
tatatata-tatatata-tatatata
Faça
 chuva
 calor
 o tempo que for
escorre a paisagem
seja
       noite
       dia
 a hora que for
tatatata-tatatata-tatatata
tatatata-tatatata-tatatata
tatatata-tatatata-tatatata
de pé ou sentadas
vão as pessoas
 as pessoas
                 caladas
                 faladas
                 falando
                 sisudas
                 risonhas
                 lendo
                 meditando
caras cerradas no olhar ausente
tatatata-tatatata-tatatata
tatatata-tatatata-tatatata
tatatata-tatatata-tatatata 

 Poema - História de Todos os Dias - escrito no comboio Barreiro - Setúbal em 1982.03.18

Estas viagens eram monótonas e desconfortáveis, ocupando-me o tempo lendo, escrevendo ou tratando do expediente do meu serviço, na Câmara do Barreiro. Se entre Setúbal e o Barreiro, de manhã para chegar ao trabalho, a viagem se fazia sem paragens, cumprindo a tabela, no regresso a casa, ao fim do dia ou à noite, ficávamos muitas vezes tempos infindos com o comboio parado entre duas estações, normalmente aguardando a passagem dos trens de passageiros, não suburbanos, que tinhm prioridade. 

Se na ida saía no apeadeiro do Barreiro - A, a dois passos dos Paços do Concelho, no regresso, ao fim do dia, calmamente descia a Avenida da República para embarcar na Estação à beira-rio, para conseguir lugar sentado. Aí se via toda a irracionalidade deste sistema capitalista, com azáfama e correria desenfreada dos passageiros, aos magotes, uns saindo dos autocarros para apanhar os barcos para Lisboa, outros desembarcando destes para entrarem nos autocarros, todos eles e elas a caminho do "lar, doce lar".  (2021.06.25)


Entre Lisboa  - Porto  - Lisboa

Finalmente a bagagem está toda ali à porta ou no corredor, aguardando o seu transporte para o velho Renault 5, meu companheiro de longas viagens. Tudo isto teria sido mais rápido se as criancinhas ajudassem, mas entre cada transporte ou arrumação surge sempre uma série na televisão que elas têm de ver ou um livro para o Rui ler!

Se o meu carro fosse de confiança amanhã metia-me auto-estrada do Norte acima, pois não tenho paciência para esperas e transbordos. Assim, tenho de passar por Paço de Arcos, descarregar, comprar bilhetes para o comboio, voltar a carregar o carro, levá-lo no dia seguinte para Santa Apolónia com uma hora de antecedência, secar na estação até à hora da partida, embarcar, desembarcar em Campanhã, esperar pelo descarrego do carro e ala para o Mindelo. Como se vê, uma aventura que se repetirá no regresso, onde espero ficar em Paço de Arcos alguns dias, em Setembro.   (...) (MMA 1993.08.17)


Foto victor nogueira - Estação ferroviária  de Santa Apolónia, em Lisboa 

Já passou a hora de almoço e já foi tempo de passar por Santa Apolónia para comprar os bilhetes de comboio para o pessoal e para o carro. Embarcaremos no domingo após o almoço. Embarcaremos? Não seria mais apropriada dizer ... encomboioremos?  (...)    (MMA - 1993.08.20)



Foto victor nogueira - Na estação ferroviária de Vila Nova de Gaia - 1975 12

Foto victor nogueira - Ponte ferroviária D. Maria II, sobre o Rio Douro - Vila Nova de Gaia / Porto 1975 12



Fotos victor nogueira - Estação ferroviária de Campanhã, no Porto

Foto de família - Zé Luís, c. 1980


Linha Porto / Póvoa de Varzim


Foto victor nogueira - Mindelo - antiga estação ferroviária suburbana, actual estação do metro de superfície do Porto

1. - Gosto de ir até ao Mindelo (...). Fica a poucos metros da estação, com ligações ferroviárias ao centro do Porto (a Sul) ou a Vila do Conde e Póvoa de Varzim (a Norte), em viagens que não ultrapassam os vinte minutos. Para além disso a praia fica a 2 quilómetros. 

E depois sempre há pessoas que me vão reconhecendo ao fim destes anos. No centro da aldeia o homem dos jornais, o talhante, os donos do minimercado, a rapariga da padaria. Mais adiante, junto à praia, a dona de outra loja, um pouco maior e com maior variedade de mercadoria. (...) 

Gosto da casa e do sítio, mas fica demasiado longe para se ir lá durante o ano.  (MMA - 1993.08.20)

O Mindelo é para mim um quartel-general donde parto para as minhas explorações paisagísticas e turísticas. Para o interior e ao longo dos rios dão-se belos passeios, com protestos da Susana, que não aprecia ver pedras e monos. (MMA - 1993.08.21)


2. - Faço no metropolitano o percurso entre o Mindelo e a Fernandes Tomás, no Porto. Na ida embrenhado na re-leitura de "A Oeste Nada de Novo", de Erich Maria Remarque, e no regresso, já noite cerrada, atento ao que ao meu redor se passava; o ondear sinuoso das carruagens, o casal chinês com o miúdo ao colo do pai, a mãe semi-adormecida, miúdo que num balanco do comboio se desequilibra e se magoa de encontro ao carrinho de bébé. Os orientais raramente sorriem, transportando aquele ar sério e para nós imperscrutável. Defronte a mim, sentados, um casal jovem, ela absorta, com ar vagamente sério e triste, a cabeça encostada ao vidro, inclinada e apoiada na mão, o braço flectido, olha  para o negrume para lá da janela; a páginas tantas ele debruça-se sobre ela, que permanece indiferente, ele força beijos, mas ela retoma com ar contrariado e ausente a posição anterior, de olhar para fora da carruagem. Ele sai antes do Mindelo, ela prossegue talvez para a Póvoa de Varzim, com o mesmo ar distante, frágil e ausente, sem sorriso ou gesto de agrado.

As estações do metro no Bolhão e no Campo 24 de Agosto estão a grande profundidade, Naquela um painel de azulejos ilustra cenas do mercado vizinho, recuperado, enquanto no Campo as estações rmitiram pôr a descoberto um edifício,  centenário de séculos, onde existiu a “Mãe d’ Água de Mijavelhas”, que na ribeira, à entrada da “Estrada para Valongo e Além”, de “Chafariz” do Fernão Lopes passou a “Arca” dos Homens-Bons do Porto Renascentista” e de “Arca” a “Reservatório do Campo Grande” . (2014.09.03  Porto: a rua Fernandes Tomás, entre o Bolhão e o Campo 24 de Agosto)


Títulos de transporte



Linha do Estoril (Cais do Sodré / Cascais)  Bilhetes em 1ª, 2ª e 3ª classes




Linha do Estoril - Passe mensal


Bilhetes das Linhas do Norte (auto) e suburbanas do Barreiro e da Póvoa de Varzim


VER a série # CP Estações


Reelaboração dum texto anterior, p

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