* Victor Nogueira / JJ Castro Ferreira
Quem olha para esta fortificação, edificada em 1514, dum rendilhado tão delicado e sedutor, apesar da sua altaneira e anacrónica torre de menagem, não tem consciência do poder terrífico que a Torre de S. Vicente, em Belém, apresentava aos navios que entravam na barra do Rio Tejo, erguida no que então era um ilhéu, com poder de fogo a rasar as águas cruzado com o da Torre Velha, ou de São Sebastião da Caparica (1481) e com o da Torre de Santo António de Cascais (1488). Com a ocupação filipino perdeu a sua importância militar com a construção doutras fortificações, passando os antigos paióis a masmorras.
Para lá de fotos de minha autoria e do meu tio José João, estas assinaladas com (*), reproduzem-se outras iconografias não fotográficas da Torre de Belém
1963
Após o almoço seguimos pela Avenida Marginal até à Torre de Belém. Visitámos tudo, desde a torre até às masmorras, que são parecidas com as do Forte de S. Pedro da Barra, em Luanda: frias e húmidas. Visitámos o Museu dos Coches, que também me agradou. (...) O avô Luís já não teve disposição para vermos o Mosteiro dos Jerónimos. (...) Vi também a Casa dos Bicos e os pilares da Ponte sobre o Tejo. [1] (...) O tempo tem estado muito quente, mas hoje à tarde esteve chuvoso e à noite também: é uma espécie de "cacimbo" (1963.09.10 - Diário III)
[1] - A construção da Ponte Salazar, rebaptizada em 25 de Abril, obrigou ao desalojamento forçado dos habitantes da zona de Alcântara em que assentaram os seus pilares, dum modo não menos desumano do que o utilizado pelo Marquês de Pombal relativamente aos pescadores da Trafaria e de Santo António da Arenillha, noutro tempo e na outra margem. (1998.Maio)
1998
Esta zona dos Jerónimos é bastante aprazível, relvada, um espaço amplo cheio de gente, especialmente aos fins de semana. As pessoas passeiam, jogam à bola com os miúdos, ou observam o rio, muitas dentro dos carros. A Torre de Belém com o seu rendilhado em pedra, de modo algum parece que alguma vez teve funções bélicas, ao contrário talvez da sua irmã arruinada e perdida no meio das estevas, na outra margem, em Porto Brandão. Persistem dois testemunhos da Exposição do Mundo Português (1940): o monumento aos descobrimentos e o edifício do Museu de Arte Popular. Manuelino, como a Torre, é o Mosteiro dos Jerónimos, filigranado na parte oriental. Aliás aqui coexistem testemunhos de épocas várias, aos quais se podem juntar o Planetário Vasco da Gama e o Centro Cultural de Belém, este lembrando uma construção dos povos andinos. (...) Perto da Torre de Belém encontra se uma réplica em tamanho natural do avião utilizado por Coutinho e Cabral na travessia do Atlântico Sul, cujo original jaz perto, no Museu da Marinha. De Belém alcançaram nomeada os pastéis de nata, cuja fórmula é segredo transmitido de geração em geração, procurados por longas filas de passeantes, que os comem ou não polvilhados de açúcar e canela. (Notas de Viagem, 1998.Maio)
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