quarta-feira, 2 de setembro de 2020

A vida é um pass(e)ar sem retorno !

*  Victor Nogueira




2013
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Vou dar uma volta pelo centro historico de Paço de Arcos, que é a minha segunda terra natal, depois de Luanda e mais do que o Porto. Era o meu porto de abrigo no tempo em que estava exilado em évoraburgomedieval, a terra onde morava a minha tia-avó Esperança, numa vivenda arrendada  estilo casa portuguesa do arquitecto Raúl Lino, que depois passou para os meus pais, qd ela mudou para a Tapada do Mocho, para casa do sobrinho e meu tio. Passeio pois pelo centro da vila como se fosse um estranho. As pedras da calçada, o asfalto, as paredes e janelas serão aparentemente as mesmas. Novos os antipáticos pilaretes de metal e as paredes pintadas das cores da moda - rosa velho, amarelo vivo, verde ...

Passeio pelo largo com arquitectura do Estado Novo, como a da Praça do Areeiro em Lisboa,  onde estão os correios e o mercado e um jardinzito com estátuas de hoquistas (o clube de Paço de Arcos foi outrora e muitas vezes campeão nesta modalidade)  prossigo pela rua junto ao Forte de S. Pedro [onde está a estátua dum actor de teatro, de seu nome José de Castro] e prossigo até ao jardim, arborizado e com um coreto, sem esquecer o monumento ao Patrão Lopes, de que se falará mais adiante, passo pela leitaria [agora noto que não reparei se ainda existe] e pelo prédio da casa Dany, prossigo pela Rua Costa Pinto até ao Palácio dos Arcos. Registo as mudanças, algumas já antigas - o Cinema Chaplin das sessões duplas encerrou há muito e hoje conserva apenas a fachada como memória. O cunhal do prédio numa esquina fronteira à da Papelara Dany já não ostenta o anúncio que registei numa foto e esse prédio, tal como outros, está tapado por um painel que tenta seduzir os jovens a morarem no e rejuvenescerem o centro. Nova falta minha de atenção: ainda existe a padaria onde comprava pão ?
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Na Rua dos Fornos da Cal desapareceram as inscrições do antigo Salão Azul e duma merceara, tapadas por garridas cores das paredes (uma porta de vermelho vivo), enquanto a frontaria do outro lado continua degradada, com o edifício da Casa Bonvalot ou dos Cacetes parecendo uma casa rural, vista deste lado.  No  remanescente e museificado forno da cal, nas traseiras de chalets de traça burguesa e do que foi um elegante casino, quando esta era uma estância de veraneio e praia de "gente bem", legendas explicam porque a cal foi uma importante indústria na vila, que à custa dela terá enriquecido alguém, durante séculos, desde os descobrimentos até ao terramoto de 1755 e depois até ao século XIX. O primitivo dono da Casa Bonvalot - cuja história está ou estava registada em recortes e fotos antigas numa das paredes interiores chamava-se Pinhanço e era avô do referido actor José de Castro, que nada tem a ver com a família do meu avo paterno.
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A Casa Bonvalot ou dos Cacetes - uma especialdade e também geladaria - (cuja montra era decorada com objectos antigos regularmente mudados), onde lanchei muitas vezes sózinho, com a família ou com malta amiga e almocei algumas outras,  está fechada, pelo menos até 31 de Maio. Na Tabacaria Dany está um jovem e já não quem conheci outrora. Na esquina oposta do prédio, com livros e papéis comidos pelo sol, está encerrada a Papelaria/Livraria Dany. A correnteza de prédios térreos até a Marítima foi demolida e substituída por novo conjunto, de dois pisos. Já há muito desaparecera o alfarrabista que não sabia o valor dos livros que vendia até que face ao meu não regatear passou a pedir preços exorbitrantes, perdendo-me como cliente.
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Há muito que a pensão degradada do outro lado da Costa Pnto foi restaurada, mas já  não sustenta a azulejaria - por mim fotografada noutro tempo - indicativa de que ali era o então acanhado Quartel dos Bombeiros Voluntários. O vasto terreno atrás da pensão e da igreja já fora então atravancado com novos prédios resultantes da especulação urbanística. O prédio a seguir ao da antiga pensão, com fachada de azulejos e janelas ogivais, ainda tem a loja de tecidos e vestuário, de semi-fancaria, mas onde conseguia por vezes encontrar roupa ao meu gosto. A barbearia a seguir, onde uma vez o velhote levou horas para me cortar o cabelo, já não existe. Eternidade que também gastou o velhote do Salão Azul, atrás referido, que me justificou a excessiva  lentidão com o argumento de que um serviço bem feito requeria ... tempo. Nas traseiras [na Travessa Caetano Felix, num prédo estilo "português suave"] fica a Pastelaria Oceania - onde havia uma rapariga ruiva  e sardenta  -  que me não lembro se empregada, se dona - também tinha uma especialidade em doçaria - os sticks (do hóquei em patins)
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Os painéis toponímicos [Cacém, Caxias, Porto Salvo, existentes na Praça da República] desapareceram da esquina seguinte, pois a passagem de nível foi defiitivamente encerrada, e a Costa Pinto tem mais restaurantes. Lá continua a Marítima, onde ia almoçar ou jantar só ou acompanhado, da família ou com pessoal amigo. O prédio que tem nas traseiras a Capela do Senhor Jesus dos Navegantes (agora capela mortuária) e onde em jovem ia a missa antes de ser construída a nova igreja modernaça no outro extremo da vila antiga, encontra-se destelhado e em ruínas. Outrora havia uma boa papelaria dum velhote simpático mas que falira há muito. Defronte desapareceu a bomba de gasolina, salvo erro a vrumm vrumm. [Algumas vezes assisti à missa na capela do Paço, mas nada recordo do seu interior]
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Tento ir visitar os jardins do Paço, agora dum amarelo vivo, tornados públicos (que já visitara no google maps) mas o edifício está em obras e o encarregado diz-me que é perigoso e não assume a responsabilidadde  se eu sofrer algum acidente pelo que decido retornar ao largo dos CTT onde deixei o Fiesta e onde ainda há duas lojas de roupas e tecidos com ar antigo e ruralista, [de que a minha mãe foi cliente].
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Tentei ilustrar esta nota com fotos de agora mas não consigo carregá-las, pelo que ficam apenas algumas muito antigas que tinha digitalizadas

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 Paço de Arcos no antigamente


 1963
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Os dias têm estado óptimos, quentes e cheios de sol. Paço de Arcos é um sítio deveras sossegado. Domingo fui à missa das 11, na capelinha do Paço  Condes de Alcáçovas [donde vem o nome da vila, pois tem três arcos no piso térreo, virado para o Rio Tejo]. Além desta há uma Igreja, que será substituída por uma outra. Em seguida fomos dar um passeio até ao jardim, onde ficam campos de jogos, parque infantil, bar, cinema e clube [Clube Desportivo e Recreativo de PA, num edifício que foi  casino]. (1963.11.17/19 - Diário IV)
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1972
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Hoje não vamos a Lisboa. Passearemos apenas aqui em Paço de Arcos. Sairemos aqui de casa, apreciarei a casa onde moram as minhas tias [na Avenida Conde S. Januário], que tem um jardim pouco cuidado, que pertence à senhoria [a D. Manuela Ataíde], que mora no r/c - nós moramos no 1º andar. Atravessamos a linha férrea, iremos até ao Paço dos Condes de Qualquer Coisa - na foto - um recanto bonito e antigo. (3) Tomaremos a rua Costa Pinto  - com prédios que devem ser do tempo do Marquês de Pombal e, junto à tabacaria, viraremos para o jardim, onde agora está a "feira" [Festa do Senhor Jesus dos Navegantes ].(4) Veremos os cartazes do cinema [Chaplin] [1972] e as pessoas que passeiam. Sentamo-nos no  jardim, trocando ideias sobre as notícias do jornal. Ali um jovem casal de namorados troca de vez em quando uma beijoca (quando o polícia não olha!). Esperemos que nenhuma das duas velhotas se escandalize. Retomaremos o passeio pela marginal, ultrapassaremos a doca e iremos até à praia tomar banhos de sol. De mar não, por causa da poluição  E como o tempo falta - a tiragem do correio é às 17 horas - regressaremos passando pelo Mercado e rumo aos CTT, apreciando os prédios do J.Pimenta, junto à Igreja nova [e de estilo moderno], onde nunca entrei. (MCG - 1972.08.02)
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O dia está desagradável no jardim: ventoso e fresco. Ontem o tempo estava estival, dizem as minhas notas. Os carros passam velozmente ali na Marginal e o Tejo é azul. As crianças correm e brincam pelas áleas e vêm-se muitos triciclos e bicicletazinhas. A esplanada  [do jardim]  está cheia de gente que conversa. Além à esquerda vejo o barracão feio do cinema da vila [o Chaplin]: apenas três sessões semanais no verão - terças, sábados e domingos. (1) (MCG - 1972.08.10)
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Mestre "Cuca" I - Estou com um grave problema, pois já me esqueci das recomendações das minhas tias (eu bem lhes disse para deixarem mas escritas): será que as batatas se põem ao lume durante 15 minutos? E quanto ao feijão verde? Deita -se no tacho quando a água ferver. E depois? Continua? Apaga-se o lume? Bem, o que for se verá! (MCG - 1972.08.23)
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Encontro-me no jardim, rodeado de pessoas, digo, de crianças brincando, e do trânsito automóvel. O chão está coberto de folhas secas e amarelecidas, que o vento transporta. Esse vento fresco que me fará ir embora mais cedo porque se torna desagradável. Ultimam-se os preparativos para a Festa do Senhor Jesus dos Navegantes   que se realizará nos últimos dias deste mês de Agosto, pelos vistos mês das feiras e festarolas. (2)  MCG - 1972.08.23)
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 Dia de correio - São 12:30. [Em Paço de Arcos] ouço o portão chiar e assomo à janela ... e não vejo ninguém (Algum miúdo que entrou e saiu, penso eu). Mas eis que batem com a aldraba na porta. Abro-a e lá está o carteiro no gesto habitual, mão estendida com as cartas (hoje, apenas carta!) Cumprimentamo-nos e agradecemos mutuamente. Fecho a porta. Regresso à sala de estar, pego na tesoura para abrir o sobrescrito, que resguarda as notícias da Celeste. "Olá, mocinho! Tenho apenas 21 anos dizem-me (a idade das, de algumas liberdades consentidas) ... " e continuo numa surpresa crescente, como a quem se revela numa faceta até aí ignorada. Todo eu sou uma crescente surpresa estupefacta! Apago o gira discos - que transmite canções do Nelson Eddy. Estou agradavelmente surpreendido e preciso de concentrar-me para perceber isto tudo, estas linhas inabituais. Volto ao princípio. Releio com os olhos, com a inteligência, com sofreguidão, com todo o meu ser, para aperceber-me duma Celeste desconhecida. Surpreso, não tanto pelo conteúdo, mas pela forma, pela linguagem invulgar (nela). É verdade que há alguns "senãos". (Não me apercebi ainda, p.exemplo, que ela soubesse que existe uma "certa técnica" aprendida, de beijar). Continuo a ler e, repentinamente, tudo se desmorona, numa enorme decepção. "Não Victor, tens razão, o palavreado não é meu ... "
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Resta-me pois saber como é a personagem dum conto de [Urbano] Tavares Rodrigues com quem te queres identificar. É uma curiosidade desenganada que fica em mim. (MCG - 1972.09.06)
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- O portão [de Paço de Arcos] chiou, vou até à porta e recebo a carta que o carteiro me entregou. Leio-a e montes de perguntas me assomam à cabeça: Qual é a casa [da Celeste] ? Que tal o caminho até Vale de Guiso?  O homem da mercearia é o do telefone? Esse é que é o sr. Fernando Lucas Correia, do posto público? Vai todos os dias a Vale de Guiso? Se não vai, quando vai? (MCG - 1974.10.08)
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1973
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Desta vez as minhas deambulações trouxeram-me até ao Jardim de Paço de Arcos. Aqui estou pois, junto à Estrada Marginal, onde passam velozes carros e mais carros. O Tejo está defronte a mim e o Tejo seria uma baía como a de Luanda ou do Rio [de Janeiro] se eu não soubesse. Ao alcance da vista o mar e o Farol do Bugio. Para montante Lisboa, a Ponte e o Cristo. Além é Belém, di-lo o monumento que daqui se vê. Os bancos do jardim estão desertos: corre uma aragem fresca e algo desagradável. O jardim tem flores, mas as árvores estão ainda despidas. O céu nublado está belo, ao pôr do sol. As núvens negras nuns sítios, iluminam-se noutros. De resto vai-se aproximando a hora de jantar - os dias agora estão mais compridos. (s/data - 1972/73 ?)
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Às 14:30 apanharei  [em Évora] boleia do Pintassilgo (e da miúda) rumo a Setúbal, onde apanharei a camioneta para Cacilhas, aqui o ferry-boat para o Cais do Sodré e lá o comboio para Paço de Arcos. Em lá chegando à estação, olhos para as malfadadas escadas [escadaria], atravesso a linha, subo-as e ala pela Rua Conde de Alcáçovas abaixo, por entre as árvores que a ladeiam até ao fundo, [passando primeiro pela vivenda onde mora Eunice Muñoz. agora com ar de abandono] onde viro à esquerda dando de caras com a vivenda na Rua do Conde S. Januário. (1973.08.03)
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1974
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Ontem o mar estava de tal modo encapelado que as ondas batiam violentamente no paredão, submergindo os carros que passavam na Marginal, entre os quais o nosso. Um espectáculo com piada. Anteontem choveu, relampejou e trovejou de tal modo que até parecia uma das tempestades em Luanda. (1974.01.06)
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Passei pela Tabacaria [Dany] para comprar este postal. Está frio e encontro-me sentado num marco de pedra no passeio, onde está o Mercado, defronte ao Correio. (...) As pessoas e os carros passam de regresso a casa e eu quero ver se ainda passo ali pelo "supermercado". (MCG - 1974.09.18)

P'ráqui estou num café no Cais do Sodré. Os autocarros e os eléctricos passam lá fora na rua. O ambiente está ruidoso e o tempo ameaça chuva. A sandes e o galão estavam uma merda. (São 18:30 de sábado) (...) Parece que vai chover. Esperemos que consiga chegar a casa antes do aguaceiro, pois não trouxe guarda chuva. (...) E por aqui me fico hoje. Tenho de ir apanhar o comboio [para Paço de Arcos]. Não avisei que ia jantar e vai haver sermão, pois não contam comigo. (MCG - 1974.10.19)
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O dia hoje está cinzento e montes de jornais e livros enchem aqui a mesa da sala de jantar  Um deles, "O Combate”, tem escrito a toda a largura da 1ª página: "A libertação dos trabalhadores é obra dos próprios trabalhadores". E a titular a 1ª notícia: "MFA, liberal na política, autoritário na economia! A polícia e o exército reprimem os trabalhadores em luta no Ribatejo" (...) Da cozinha vem o ruído das costeletas a fritar. Olho ausente para o espelho defronte a mim, para ver qual será o próximo tema, e verifico que tenho o cabelo revolto e a barba já se vai notando.(1974.11.20)
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O tempo está húmido e frio e quando cheguei de Lisboa estava farto da viagem e da constipação (...) No comboio duas raparigas - especialmente a que se chamava Nani - tentaram provocar conversa - as deixas foram muitas - mas sem grande resultado. Não sei o que seriam: empregadas de escritório, operárias ou qualquer outra coisa. A máquina de discos aqui doutro café da rua principal de Paço de Arcos transmite qualquer coisa barulhenta e desconchavada cujo estribilho é "Oh Mary". Não vale a pena a troca, pois aqui também não há pregos nem leite. Tenho mesmo de ficar mal jantado. (1974.12.26)
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1975
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Já era tarde para jantar em Paço d'Arcos e dei uma volta, acabando por vir parar a um restaurantezeco aqui no  Cais do Sodré, mesmo na rua dos bares e das prostitutas. Na cadeira ao meu lado ronrona um enorme gato. (MCG - 1975.03.25)
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Amanhã regresso a Évora com o João Lucas. Vim ontem com o Viegas e a Violete; chegámos já tarde a Lisboa, onde jantei na tasca habitual lá para o Cais do Sodré, onde passeia o "bas fond" cá da cidade: prostitutas, chulos, clientes e chuis. (MCG - 1975.06.29)
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1986
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O sol já desapareceu e dele há apenas no horizonte, debruando as colinas, uma faixa vermelho alaranjado. Ali à direita, a estrada para Porto Salvo,  polvilhada de casario que vai substituindo os campos onde ainda se pratica a agricultura, agora secos. Ao longe um cão ladra e lá do fundo da casa vem o barulho da televisão. O mundo parece de brinquedo, assim, visto dum nono andar [na Tapada do Mocho].
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Passei a manhã lendo ou gravando música - desta vez brasileira - para além de ter ajudado a minha tia lavando a louça e na parte das lides domésticas resultantes da minha estadia. À tarde fui com a Susana ver o comércio de Paço de Arcos e passear pelo jardim.
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(...) Olho novamente pela janela e o céu é agora azul escuro, com um leve debrum alaranjado no horizonte. Piscando, um avião passa além, enquanto lá em baixo fieiras de luzes assinalam as estradas, as casas e os automóveis. (MMA - 1986.08.15)
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Fomos ontem tratar da mudança do meu tio para outro lar, ali no caminho para o Alto do Lagoal, numa vivenda a meia-encosta, escondida no arvoredo. Ao chegar lá por um caminho estreito e vicinal, ao sentir aquela quietude, aquele silêncio onde não chegava o bulício das pessoas e da cidade dos homens, uma enorme serenidade tomou posse de mim. Deliciei-me com a bela vista para o estuário do Tejo e para a margem sul, naquela tarde soalheira com o rio azul refulgindo por entre as clareiras do arvoredo. E pensei em como gostaria de mostrar aquele recanto do "paraíso" á Maria do Mar, a ela que um dia destes me mostrou por aquelas bandas e por entre as casas a beleza do mesmo estuário !
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Os ricos donos da vivenda deixaram-na e ela é agora uma casa de "repouso" para pessoas idosas e doentes, muitas das quais já não estão em condições de apreciar aquela beleza e quietude nem o frondoso jardim, agora descuidado, com as piscinas vazias e o campo de ténis abandonado! (...)(MMA -  1986.08.31)
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1988
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Estendendo-se perante mim a estrada para Porto Salvo  (5) e o campo cada vez mais polvilhado de casas que se vão juntando até formar novos povoados. (...) Olho pela janela para o céu azulado e para os campos verdejantes. (CTT b - 1988.03.06)
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(...) Cada vez mais as casas vão substituindo os campos, daqui até Porto Salvo. Aqui o vento uiva ou silva; às vezes, como esta madrugada, parece a chuva miudinha, como esta noite de mau dormir. (MMA - 1988.08.15)
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Aqui na Tapada do Mocho, como na maioria do concelho de Oeiras, continua a falta de água. Habituamo-nos à facilidade de simplesmente rodarmos uma torneira para obter água em abundância pelo que é um aborrecimento o racionamento e o termos de andar suados e peganhentos por não se poder tomar banho ou termos de nos lavar a prestações.
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1993

Aborrecem-me os fins de semana, especialmente os que são como hoje, pois vou ficando farto de não ter uma doce, florida e agradável companhia, no mínimo para os passeios ou idas ao cinema ou teatro. De resto estas vão sendo cada vez mais escassas, pois aqui em Setúbal não existe teatro e não me dá para ir ao cinema, ao contrário do que acontece quando vou a Paço de Arcos. A televisão e o vídeo têm também responsabilidades no cartório, apesar de nada substituir a visão dum filme sem cortes de imagem numa sala em condições, que aliás vão escasseando, substituídas pelos vãos de escada em centros comerciais. É mesmo uma designação apropriada para as desconfortáveis mini-salas de que estou falando.  (MMA - 1993.08.07)
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Eis-me finalmente em Paço de Arcos, onde cheguei á hora de almoço. Está muito calor e por pouco ao fim da tarde não fiquei molhado pela chuvada estilo tropical que então repentinamente desabou.
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De modo que me sentei aqui no quarto do meu tio José João para ocupar o tempo a escrever  enquanto ele assiste a um desafio de futebol transmitido pela TV; a minha tia Maria Luísa lá ao fundo, na sala, assiste a outro programa com a Alexandrina, a viúva do meu avô Zé Luís. Quanto ao Rui e à Susana foram para a cozinha especar-se frente a um terceiro televisor, para ver um filme com o Robert De Niro e o Robert Duvall. Televisores não faltam e é difícil haver guerras por causa dos programas (ainda há um quarto aparelho, que está desligado). A contrapartida é que está cada um silencioso para seu lado, o que tem vantagens ou desvantagens conforme as circunstâncias.
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Antigamente as pessoas escreviam muito e as cartas eram meio de transmitir notícias e muitas delas, com maior ou menor valor literário, tornaram-se testemunho dos factos, acontecimentos, ideias e sentimentos. Mas hoje, hoje as pessoas telefonam  ou encontram-se, devido à facilidade e rapidez dos transportes e das comunicações, e o tempo é pouco, paradoxalmente, devido à sobrecarga do que se gasta em transportes, sentado frente à TV ou em tarefas domésticas.
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O mesmo sucede com o convívio e a conversação: por vários motivos os cafés e as tertúlias desaparecem, só se conhece o vizinho da frente ou do lado, quando se conhece, e as pessoas metem-se na sua concha, casulo, carapaça ou buraco. Muita gente junta, ao alcance da mão ou da voz, não significa que estejamos mais acompanhados e humanizados.
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 Lembro-me das Sexualidades, um programa televisivo do Julio Machado Vaz. Um deles, em determinada altura, girou em torno da expressão Se não podes estar com a pessoa de quem gostas, gosta da pessoa com quem estás. (...)
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O calor continua e neste fim-de-semana partirei mesmo para o Norte, pois eu e a Susana queremos estar de volta para poder assistir à Festa do Avante. De manhã fui cortar o cabelo a um barbeiro já velhote cuja existência desconhecia, ali numa transversal entre a Livraria Danny e o Largo do Mercado. A barbearia foi outrora o Salão Azul, agora decadente, e aplica cortes antigos e preços que são metade dos de outras barbearias. E que lento que é o velhote na execução da sua tarefa! Porque gosto do trabalho perfeito, explicava-me ele.
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Hoje não choveu, apesar do tempo trovoadoresco, pelo que acabámos na Praça da Figueira [em Lisboa]  cheia de gente, na Esplanada  dos Irmãos Unidos vizinha da Suiça, mas com pouca variedade de comes e bebes. Por lá apareceu um indivíduo, poeta popular, vendendo meia dúzia de poemas  em livro de sua autoria, a quem comprámos um exemplar que dedicou à Susana, depois dele e a minha mãe se terem recitado mútuamente poemas das respectivas autorias. De qualquer modo os dele, em conteúdo, não chegam nem de perto nem de longe aos calcanhares do António Aleixo, algarvio, ou do Calafate, setubalense,  pois quanto ao estilo  são diferentes.
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O regresso a Paço de Arcos, pela auto-estrada, foi uma limpeza em rapidez, pois Agosto é um bom mês para férias, porque o pessoal sai da cidade, para as suas vacances, havendo pouco trânsito e muitos locais para estacionar.
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Ainda tenho de ir à do Conde S. Januário, a casa dos meus pais, buscar uns recipientes de água da torneira para fazer face à seca. (MMA - 1993.08.19)
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Finalmente a água voltou: barrenta, jorrando das torneiras aos borbotões ruidosos. Finalmente o prazer de abrir o chuveiro e sentir a carícia da água tépida deslizando pelo nosso corpo!
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O calor continua e o corpo cobre-se de camadinhas de finas gotículas de suor que se não evaporam, tal como sucedia em Luanda.
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A Susana, acabada de acordar, veio até aqui perguntar se eu andava a escrever o meu diário, emitindo a douta opinião de que os diários só se escrevem ... ao fim do dia e não a meio da manhã. Quanto ao Rui apareceu agora dizendo que era um hippie, de tronco nú, vestido com as calças de ganga, um colete da irmã e as joias artesanais dela ao pescoço e nos braços. É o ai Jesus da Alexandrina, que o trata como o menino da avó, com ternurinhas e cuidados risonhos, coisa a que não está muito habituado.
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Bem, façamos um intervalo. Tenho de barbear-me e de ler o jornal, para saber o que se passa pelo mundo.
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Finalmente a água voltou: barrenta, jorrando das torneiras aos borbotões ruidosos. Finalmente o prazer de abrir o chuveiro e sentir a carícia da água tépida deslizando pelo nosso corpo!
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 O calor continua, com uma intensidade tal que a sede aperta e os joelhos fraquejam. Aqui na Tapada do Mocho o sol bate na fachada da casa durante toda a tarde. Em Setúbal não sinto tanto calor pois durante o dia normalmente não ando na rua. Por seu lado no Departamento onde trabalho existe ar condicionado e em casa sempre se abrem as janelas e, desde este ano, o calor em casa ameniza-se com a refrigerante ventoinha que comprei, que me refrescou muitas vezes.
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Trouxe quatro álbuns do Calvin bem como uma colectânea de anedotas, muitas das quais me divertem imenso. A primeira vez que folheei este livro numa livraria dei por mim a rir às gargalhadas, pelo que resolvi arrumá-lo de novo e rápidamente no mostruário, não fossem pensar que tinha enlouquecido e me ria a bandeiras despregadas só por folhear um simples mas volumoso livro de capa azul. Depois comprei-o numa Feira do Livro e durante algumas noites o meu vizinho velhote do andar de baixo deve ter pensado que eu me passara da mioleira, pois até altas horas da madrugada me deve ter ouvido rir, numa altura em que eu já vivia sózinho.
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O Rui anda ali no corredor exibindo o seu esqueleto bronzeado como se fosse musculado e atlético, ao murro à irmã, esquecendo-se que em resultado de brincadeiras semelhantes ela anteontem torceu-lhe o dedo indicador, o que é um grave acidente com repercussões nos seus exercícios de viola e no seu dedilhar do computador.   (MMA - 1993.08.20)
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Continuando o registo metereológico, hoje o dia amanheceu nublado e chuvoso mas para a tarde já estava soalheiro embora quente e abafado como nos anteriores. Não há duvida que este mês de Agosto tem sido farto em variações climatéricas algo surpreendentes.
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De manhã passei pelo Jumbo de Alferagide, cheio como sempre, apesar de estarmos a meio do mês. Ao menos no de Setúbal anda-se à vontade, excepto no final dos meses. Mas o de Alferagide tem mais variedade de filmes em vídeo ao meu gosto, que não comprei, enquanto os CD estão mais arrumadinhos.
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Como não podia deixar de ser eu e a Susana perdemo-nos na confusão do Jumbo, só a encontrando à minha espera no carro, pois esquecera-se duma nossa velha combinação sobre o ponto de encontro após perdimentos nestes malfadados hipermercados. E lembro-me duma das vezes em que nos perdemos no Jumbo de Setúbal. Farto de andar às voltas, dirigi-me à recepção dizendo que perdera a minha filha e se lhe podiam marcar um ponto de encontro. Ia tudo bem até que a empregada me perguntou a idade da menina. Devidamente informada das suas 16 risonhas primaveras, a empregada foi-me logo dizendo que com tal idade nada feito, pois a desaparecida já era muito crescida para andar perdida, pelo que não podiam satisfazer a minha pretensão. De modo que lá andámos os dois num hiper cheio como ovo, aos encontrões, à procura um do outro, cada um para o seu lado desconhecido, deixando recados a toda a gente conhecida com quem me ia cruzando. Uma aventura sem qualquer graça! (MMA – 1993.08.21)

O núcleo primitivo de Algés de Cima conserva algumas características rurais, que se foi estendendo em direcção ao rio Tejo, até às praia, primeiro frequentada pela alta sociedade, como as de Paço de Arcos e de Santo Amaro de Oeiras, mais tarde reservada para as classes populares enquanto os Estoris se iam desenvolvendo.

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 (Notas de Viagem, 1997)
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O Patrão Lopes - salva vidas (émulo do Cego de Maio, da Póvoa de Varzim) é um dos "heróis" ou personalidades de Paço de Arcos, onde o Clube Desportivo ocupa o edifício do antigo casino, com varanda envidraçada, perto dos Fornos da Cal, recuperados. No jardim arborizado com um café-restaurante esplanada existem algumas casas apalaçadas coexistindo com prédios de vários pisos ou casas térreas humildes e as instalações sanitárias públicas são art Déco. Na rua Costa Pinto, autarca doutros tempos, existe um "Palacete", com fachada de azulejos azuis, que foi pensão e albergou o Quartel dos Bombeiros Voluntários. Os portões ainda lá estão, enferrujados, com azulejo com emblema dos Bombeiros Voluntários. O núcleo histórico conserva-se, mas já nada existe do tempo em que Paço d'Arcos era terra de veraneio e banhos de mar, melhor se diria, banhos de rio. Hoje a praia está poluída e os bancos vão substituindo os restaurantes.
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A toponímia do centro histórico regista nomes tradicionais, uns, aristocratas, outros, para além doutras personalidades. Registo assim  os becos do Moreira e de Gould, as travessas  Regueira dos Arcos, do  Salva-Vidas, da Ermida, da  Praia, de S. Pedro, do  Forte de S.Pedro, os largos de S. João, dos Fornos [da Cal], as ruas da  Fonte de Maio, dos  Fornos [da Cal], da Vista Alegre,  Passarinhos, o  Caminho do Mocho. Outros topónimos estão relacionados com a implantação da república: as praças da República e de José Fontana, o largo 5 de Outubro, a rua Cândido dos Reis, ou com a aristocracia: o Conde de Alcáçovas, (senhor do Paços dos Arcos, lembrado em rua, largo e travessa), o Conde S. Januário (avenida), os Condes de Cuba e de Rio Maior (ruas), o Marquês de Fronteira (rua), o Marquês de Pombal (rua), os viscondes de Porto Salvo e de Paço de Arcos (ruas).
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A Fonte de Maio,  agora seca depois de tempos de inquinamento, no entroncamento da avenida Conde S. Januário com a Estrada de Paço de Arcos (para Porto Salvo), deu nome ao aglomerado que hoje está integrado na vila.. Persistem algumas casas de quinta, umas bem conservadas, outras degradadas, sobranceiras à ribeira da Laje, que corre lá no fundo do vale pedregoso, onde houve uma pedreira, hoje atravessado por um viaduto, que substitui a estreita estrada tortuosa que a ligava à Tapada do Mocho, hoje bairro social, a caminho de Cacilhas.(que não é a de Almada)  (Notas de Viagem, 1997)

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NOTAS

1 - Este cinema, entretanto transformado em pardeeiro, foi demolido em 1998.
2 - Aqui se realiza mensalmente uma Feira de Velharias, que noutros dois domingos tem lugar em Oeiras e em Algés. (1998)
3 - Trata-se do Conde de Alcáçovas, que nos anos 90 o doou à Câmara. Conta a tradição que das suas varandas D. Manuel I assistia à passagem das naus para a Índia. O Palácio tem capela privativa e perto dele fica a capela do Senhor Jesus dos Navegante, outrora venerada por pescadores e mareantes. Com a edificação da nova igreja, de estilo moderno, este templo ficou transformado em, capela mortuária.
4 - A Festa do Senhor Jesus dos Navegantes, para além do arraial, inclui uma procissão que percorre as ruas da vila e a benção dos barcos (de pesca), tradição abandonada, retomada e de novo abandonada pois a pesca ... foi um ar que lhe deu! (1997.09.16) Nesta Festa deambulava Isaltino de Morais, na altura Presidente da Camara, charuto na boca, cumprimentando afavelmente os potenciais eleitores, como fazia nos cafés, incluindo-me, sem que eu lhe retribuísse, como se nos conhecêssemos de algum lado.
5 - Porto Salvo fica a poucos quilómetros de Paço de Arcos, após a confusão actual dos acessos à autoestrada do Estoril. Povoação dormitório, tem de relevante a Igreja da Senhora de Porto Salvo, cabeço avistado por marinheiros perdidos, que aí edificaram uma capela, transformada em terra de peregrinação para gente ligada ao mar. O templo, do século XVIII, tem um alpendre e terreiro. No alpendre, ladeando a porta principal, dois painéis de azulejos, um dos quais destruído. No da direita conta-se a história dum moço cujos amos mandaram comprar vinho e que encontrou a mãe no caminho. Uma lápide regista o nome dos membros da Mesa que no início deste século mandaram construir o terreiro, em memória para o futuro, que perdura. Anualmente há as Festas de Porto Salvo, feira pobre no meio da selvazinha de betão (Notas de Viagem, 1997.08.16).


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Uma Photographia por si só vale por mil palavras?