segunda-feira, 22 de junho de 2020

Santuários 16 - Nossa Senhora da Nazaré (Sítio da Nazaré)

* Victor Nogueira



Esta povoação, a Nazaré, terra de pescadores e de mortes como tributo à fúria do mar, e  de veraneio, é constituída por três outras, geograficamente separadas: Pederneira e o Sítio, cada uma em seu promontório, e a Praia, na enseada, entretanto parcialmente assoreada. Em zona turística, por todo o lado se vêm letreiros nas casas anunciando:



ALUGAM-SE:
   QUARTOS
CHAMBRES
ROOMS
ZIMMER
CAMARAS

O Sítio desenvolveu-se em torno da capela comemorativa do milagre que foi a salvação do alcaide-mor de Porto de Mós, D. Fuas Roupinho, por intercessão da Senhora da Nazaré, assim impedido de precipitar-se pela falésia abaixo quando perseguia um gamo em desenfreada caçada, gamo que não era senão a encarnação do Demónio.

Senhora da Nazaré que está na origem do Santuário do mesmo nome, erguido no local por nele ter sido redescoberta por pastores uma imagem da Virgem proveniente da Nazaré, na Judeia.  O santuário ergue-se num largo rodeado de edifícios, o Terreiro da Romaria, com um airoso coreto, sendo constituído por uma igreja com dois corpos laterais, fazendo lembrar, mais modestamente, o Convento de Mafra. Merecem realce a talha e a estatuária existentes no seu interior.

Adjacentes um Hospital, o edifício do antigo Paço Real e o teatro Chaby Pinheiro (1907). O antigo Paço, muito alterado, conserva ainda a galilé alpendrada assente em colunatas clássicas. 

Neste largo ou Terreiro da Romaria existem vários estabelecimentos comerciando louça e vestuário artesanais, para além de restaurantes e cafés, um relembrando o antigo casino do Sítio.

Artesanato típico da Nazaré, para além do vestuário das mulheres e dos pescadores, são os objectos miniaturais que reproduzem instrumentos e objectos de trabalho ligados à faina piscatória e marítima.

Visto das arcadas do santuário, o largo com as suas palmeiras têm um ar magrebino. Para além da Ermida da Memória, um cruzeiro dá conta da passagem de Vasco da Gama por este local, em peregrinação, antes e depois da sua viagem à Índia.

As lojas de artesanato vendem com gravação de "recordação da Nazaré" louça artesanal de... Barcelos, Caldas da Rainha, Alentejo, etc., talvez porque não existam objectos daqui, salvo as camisolas dos pescadores (nazarenas). Por toda a parte bonecas de sete saias, indumentária tradicional característica das mulheres da região.
Tal como sucedia na Pederneira, daqui se avista a Nazaré, espectáculo deslumbrante à noite, o amarelado das paredes do casario contrastando com o escuro dos telhados. 

Para outro lado a Praça de Touros da Nazaré, edifício despretensioso. As casas são brancas como no Alentejo, talvez reminiscências da presença dos Árabes, que mais abaixo se refere.

Para além do museu adjacente ao Santuário existe um outro, municipal, de Etnografia e Arqueologia Dr. Joaquim Manso, em casa cedida por Amadeu Gaudêncio, fechado na hora em que o procuramos (1). Parece um museu modesto e pelas vidraças entrevêm-se alguns dos objectos expostos.
As designações toponímicas revelam-se menos interessantes: travessas do Forno, D. Fernando e do Antigo Elevador, são as únicas que registo. Esta última deve referir-se ao funicular que liga a vila ao cimo do promontório.

Daqui por uma estrada sinuosa se vai até uma fortaleza (de S. Miguel Arcanjo) que outrora protegia os habitantes da região das investidas dos piratas, hoje transformada em farol, dum lado se avistando a enseada da Nazaré e do outro a brancura das areias da praia e das ondas, cujo rugir cadenciado, lá em baixo, invade o silêncio deste local. 

O Sítio, contrariamente a Pederneira, não estava sujeito à jurisdição do Mosteiro de Alcobaça mas sim à do Rei. (Notas de Viagem, 1997.10.31 e 1997.11. 01)


O Sítio visto da Pederneira

Muitas das aldeias e vilas alcobacenses se parecem com povoados alentejanos e esta parecença talvez provenha da presença dos árabes durante e há longos séculos. Presença atestada por topónimos como Aljubarrota, Alcobaça, Alvaiázere, Aljustrel, Alpedriz, Alfeizerão... e outros que facilmente se encontram no mapa. Aliás os topónimos Nazaré e Fátima terão nos árabes a sua origem remota. Muitas lendas da região envolvem enamoramentos de cavaleiros cristãos por filhas de alcaides mouros, que depois traíam, servindo-se delas como instrumento para conquistarem as fortificações nas mãos dos árabes.

 (1) O Museu está aberto diariamente das 10:00/13:00 e das 14:30/18:00, excepto segundas feiras.

fotos em 1997, outubro / novembro
rolos 208 e 208 A

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