Antropólogo apaixonado por fotografia tem milhares de imagens de lugares abandonados, entre Portugal e outros países. Agora, o seu "Proj3ct Urbex" está num livro
São ruínas de casas, algumas de antigos solares, muitas isoladas na paisagem. São fábricas desvalidas, hospitais fechados, edifícios com história por desvendar. Paulo Santos começou a aventura por este universo há coisa de três anos. Por conhecer a sua paixão pela fotografia, um amigo adicionou-o ao grupo de Facebook Lugares Abandonados e desafiou-o a viajar em busca desses espaços.
Desde 2002 que Paulo Santos se tinha entregue à fotografia — ou às viagens que o conduziram à fotografia. Antropólogo de formação, e em vias de concluir um doutoramento em Antropologia e Imagem, fazia das passagens por outras geografias (já esteve em 50 países) uma oportunidade para apurar o registo fotográfico. Começou, até, a eleger os seus destinos com esse requisito: “Tinham de ser fotograficamente interessantes”. A relação com a máquina foi-se apurando por esforço solitário: comprava revistas e livros, aprendia a técnica, treinava. Aos poucos foi-se sentindo em casa.
Quando o amigo o convidou para integrar aquele grupo em busca de lugares perdidos, Paulo não hesitou. E o passatempo foi-se tornando um vício. Com mais quatro ou cinco amantes da imagem, faz-se à estrada pelo menos duas vezes por mês. “Fui-me interessando por aquilo, às vezes ia sozinho”, contou ao P3 numa entrevista por telefone.
A viver em Lisboa, Paulo e o restante grupo não se limitaram à capital e cidades próximas. Faziam pesquisa prévia, partiam para o terreno com coordenadas GPS, e percorriam quilómetros até ao Norte do país: “Do Porto para cima, sobretudo, há muitas casas abandonadas. Imagino que de emigrantes que saíram e as deixaram para trás.” E vezes houve também em que Paulo Santos se arriscou além fronteiras: a Marrocos (várias vezes, sempre que pode), à Bélgica, ao Luxemburgo, à Ucrânia (Chernobyl).
Fá-lo pela fotografia, mais do que por qualquer análise apetecível a um antropólogo. “São espaços interessantes”, diz, e quase sempre um “desafio” do ponto de vista técnico. “Muitas vezes as casas estão entaipadas ou têm pouca luz”, explica, e para Paulo Santos, 42 anos, o flash é coisa a evitar: usa apenas luz natural, faz longas exposições com tripé, no limite usa uma lanterna para iluminar ligeiramente o lugar. A segurança é também tema em cima da mesa: abandonados, alguns espaços têm os alicerces comprometidos; noutros encontram gente dentro.
Paulo, desenhador de Autocad num gabinete de engenharia, não tem os números exactos, mas aponta para uns 350 espaços em Portugal e mais uma centena no estrangeiro quando lhe perguntámos por quantos já passou de máquina na mão.
No Verão do ano passado, a editora Alma Lusa convidou-o para reunir algumas destas imagens num livro. E o antropólogo aceitou: selecionou 81 fotografias, distribuídas em 104 páginas, e optou por um registo quase se texto. Neste Proj3ct Urbex (à venda online por 30 euros) preferiu ocultar a localização exacta dos lugares (“apesar de abandonados, muitos têm dono e podiam ser assaltados depois”) e dar primazia à imagem.
Por detrás de cada fotografia, haverá certamente uma história, ainda que esteja por escrever. Como a de um casa com um sótão onde Paulo se deparou com um lugar cheio de pó, uma luz suave, um triciclo perdido [imagem em destaque]. Conseguem imaginar uma narrativa?
http://p3.publico.pt/cultura/livros/24989/o-fascinio-de-paulo-por-edificios-abandonados-deu-um-livro?page=/&pos=9&b=stories_featured_c
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Uma Photographia por si só vale por mil palavras?