* Victor Nogueira
Mais uma photoandarilhice, desta feita aos jardins do Palácio do Marquês de Pombal, em Oeiras,precedida dumas divagações em solilóquio, quando não em circunlóquio.
Depois duma interessante BD sobre o Holocausto, "Maus" (Ratos) de Art Spiegelman - cuja tradução é péssima - acabei de ler um livro de Anita Vilar com biografias de mulheres ligadas a Setúbal ao longo das eras, no qual se faz referência a um opuscúlo sobre o mesmo tema escrito por uma colega e amiga minha que foi bibliotecária da Câmara, a Idília das Mercês. Já reformada e com a doença de Alzheimer, um dia levaram-na ao edifício onde eu trabalhava para visitar os colegas, não reconhecendo qualquer deles, com uma surpreendente excepção: ao cruzar-se comigo num corredor, o rosto iluminou-se num sorriso, exclamando: "Olha, o Victor". Também o meu pai já só me reconhecia e às minhas mãe e filha, perguntando pela Celeste. Quando lhe dizia que já tinha morrido afirmava que não sabia e que ninguém lho tinha dito, repetindo-se a cena algum tempo depois, conjuntamente com a afirmação de que o filho Zé Luís também já morrera, interrogando-me sobre a causa da morte do caçula.
Continuo a ler uma obra sobre as civilizações africanas na Idade Média, algumas delas tão avançadas como as europeias e, nalguns aspectos, mais adiantadas. E na forja para leitura uma colectânea de escritos de viajantes estrangeiros que ao longo dos séculos passaram por Setúbal, um dos quais é o autor duma interessante obra que acabei de ler há dias "Portugal, Recordações do ano de 1842", do Príncipe Félix Lichnowsky.
Voltando a "Maus" de Art Spiegelman, de leitura que prende, toda a trama gira em torno da eliminação genocida dos judeus, como se estes - dentro e fora dos campos de concentração e de extermínio - tivessem sido as únicas vítimas. omitindo-se - como é habitual - a perseguição e o extermínio de opositores políticos ou de "sub-humanos", como ciganos, comunistas, socialistas, sindicalistas, eslavos, incluindo os prisioneiros do exército vermelho (soviético), a quem os nazis não aplicavam o estatuto de prisioneiros de guerra.
Em vai-vém, oscilando entre as margens dos rios tejo e sado, entre Setúbal e Paço de Arcos e seus arrabaldes, estilo borda de água, prosseguem os dias de verão, ora chuvosos, ora outonais, ora frementes de electricidade, entre a clara luminosidade e o cinza das núvens acasteladas. As noites são povoadas de contínuas histórias, como se sessões de cinema fossem, cujo enredo procuro fixar ao acordar, logo esvaídos e sem préstimo como matéria prima para "literaturas". Sucedem-se os tempos e os espaços e na tessitura deste (es)correr dos astros, das núvens e das águas, tu não és senão uma efabulação minha, uma ausência de nós e de laços, mas apesar disso contigo percorro e photoandarilho, contigo que és toda a gente e ninguém, cada um metido na dobadoira da vida em caminhos que ainda não se encontra(ra)m na estrada da Junção do Bem. Seria a Junção do Bem ? Huuummmm !!!
1. de quantas pétalas é tecido o sol
e de quantas escamas o mar?
quais as malhas que entretelam o lençol
e de que notas se veste o luar?
é difícil a rima,
verso branco que arrima
e anima
oco louco
muito ou pouco ?
e a seara cerealífera
na esfera da espera
na concha do sentido
caracol
pelíicula a película (des)folh(e)ada
quantos sentidos se encerram ou libertam ?
de quantos caracteres, signos e palavras
se retiram duma só?
sol rissol solidão metanol briol
solário vário
refrigério
quente ou frio
etc & tal
ou assim e assim
afinal
sem pós de perlimpimpim ?
2. De quantas roupagens e de quantos espelhos se veste o amor ? Como e em que balanças se pesam os corações ? De que matéria ou materiais são feitos? De quantos rios refluindo em riacho cada vez mais estreito e para longe do mar ? De quantas luas se faz o sol ? Como se apura o deve e haver da mão invisível que equilibra as curvas da oferta e da procura ? Na economia do amor de que monopólios ou oligopólios se alimenta ? Amor rima com ar-dor e an-dor e amizade com serenidade.Fica um campo de flores estreladas.
3. retrato de gioconda por Fra Angélico
Uma expressão de nórdica Gioconda, branca de neve contrastando com ondas de azeviche da cabeleira como se visão de El Greco fosse.Na contrastaria e em fundo a delicadeza colorida e nipónica, o verde do canavial, junco ou papiro, a seara de esmeraldas … e o solário. O equilíbrio, a diversidade e … o enigma! A roca e o fuso, a esquadria curvilínea. Para lá da imagem a cisterna do mar dourado e a flexibilidade das ondas em crescendo, serpenteante e diamantífero caracol. A sintonia da sinfonia.
4. os dedos em arremedos
um beijo em solfejo
abraços em baraços
nós sem laços
e na rua
a lua nua`
lassa
cruciforme
baça
sem ti
e o destino
um malão de cartão
no porão
e
a
ínsula
onde a pena ou a "pen" da península
istmo com ritmo
o sábio astrolábio ?
João Baptista
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O passeio de hoje é uma deambulação pelos jardins do Palácio do Marquês de Pombal, na vila de Oeiras. Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras e Marquês de Pombal, foi o poderoso e autoritário Ministro de D. José, cujo poder - baseado no despotismo iluminado - procurou fortalecer contra muito poderosas casas senhoriais, como as dos Marqueses deTávora ou dos Duques de Aveiro, ou de influentes ordens religiosas como a Companhia de Jesus, vulgo Jesuítas, cujos colégios espalhados pelo país, incluindo a Universidade de Évora, extinguiu.
Representante dos interesses da nascente burguesia, aboliu a distinção entre cristãos-novos e cristãos velhos, reformulou o ensino em novas bases e lançou os alicerces para o desenvolvimento económico através da criação de manufacturas, cujos produtos eram protegidos através de pautas aduaneiras, ou de companhias majestáticas e monopolistas, designadamente no campo dos tecidos (seda e lanifícios), das pescas e da vitivinicultura, ou comercias, nas colónias (Brasil), reprimindo violentamente as manifestaçãos populares e dos pequenos produtores, como as dos vinhateiros e pequenos comerciantes (Motim dos Taberneiros do Porto), a dos pescadores de Santo António da Arenilha (Algarve) ou o incêndio da Trafaria, povoação de pescadores onde se haviam refugiado fugitivos à Justiça Real.
O racionalismo iluminista no campo da urbanização é bem patente na reconstrução da baixa lisboeta após o terramoto de 1755, e na construção de raiz de Vila Real de Santo António, no Algarve. Li algures e em tempos que em Setúbal, arrasada pelo terramoto, tentou aplicar os novos princípios racionalistas no traçado urbanístico, mas a vila reconstrui-se mais rapidamente no seu traçado medieval.
Foi o Marquês de Pombal quem quebrou o poder da Inquisição em Portugal (que viria a ser definitivamente abolida com a Revolução Liberal de 1820), embora sintomáticamente o último auto-de-fé, "encomendado" pelo Marquês, tenha queimado o padre jesuíta Malagrida (que defendia que o Terramoto tinha sido provocado não por causas naturais mas pela ira de Deus). Em estátua ou efígie, porque fora do alcance da Justiça Real, foi executado o Cavaleiro de Oliveira, libertino, racionalista, que havia abjurado a fé católica, crítico impiedoso da Inquisição e da Igreja Católica (religião única da Monarquia), a cujo obscuranturismo atribuía a miséria de Portugal e o seu atraso económico.. Também em efígie, porque já haviam morrido, foram executadas duas pobres mulheres, talvez acusadas de bruxaria ou feitiçaria.
Para além do Palácio no Bairro Alto, em Lisboa, o todo-poderoso Ministro, oriundo da pequena burguesia rural, feito Conde de Oeiras na sequência das medidas tomadas após o terramoto de 1755, na povoção do mesmo nome ficou proprietário de vastas e férteis terras, junto à Ribeira da Laje, combinando a quinta de recreio e palácio com a exploração agrícola segundo métodos avançados. Foi também em Oeiras que o Marquês de Pombal realizou a 1ª Exposição Agrícola e Industrial portuguesa. (1770).
A entrada principal do palácio, projectado por Carlos Mardel, é feita por um amplo terreiro onde actualmente se localizam o edifício da Câmara Municipal, o Pelourinho e um grande chafariz. Olhando para mapa, o palácio situa-se no canto superior esquerdo, numa das laterais do largo fronteiro aos Paços do Concelho, onde se situam os referidos pelourinho e fontenário com as armas do Marquês. No lado direito, na extrema do mapa, os edifícios da adega e do lagar de azeite, junto dos quais fica a Cascata dos Poetas ou Gruta Nobre, construção artificial, com os bustos dos quatro poetas preferidos de Pombal, entre eles Camões e Virgílio. Adjacente ao Palácio desenvolvem-se espaços, decorados com estátuas e bustos de mármore, muretes e escadarias revestidas de azulejos. Nos jardins, atravessados pela ribeira da Lage, encontram-se excelentes bustos de autoria de Machado Castro, para além do Jardim das Merendas e da Casa do Peixe. Os jardins deste palácio são representativos da arte do paisagismo em Portugal, apresentando uma concepção do século XVIII europeu, mas permanecendo fiel a uma tradição portuguesa que produz a partir do século XVI as Quintas de Regalo. Era nos jardins em torno do palácio que se realizavam os eventos culturais: teatro, bailado, música, entre outros. Do renomado escultor Machado de Castro, já falámos em notas anteriores, das photoandanças por Lisboa (Arco da Rua Augusta e Praça do Comércio) e por Caxias (Quinta Real).
Nestes quentes dias estivais o sol ofusca e a luminosidade fere o olhar, não se ouvindo o rumorejar das águas na cascata nem o trinado de aves ou o sussurrar das folhas agitadas pela brisa e o perfume das flores não volteia em meu redor.
MEMÓRIA DESCRITIVA
no jardim
aragem chinesa ou nipónica
em filigrrana rendilhada
um jogo de luzes em chiaroscuro
dicotómico e caleidoscópico
sombria de sombras
na penumbra em contrastaria
rútilo é o i
entre o gradeamento
e a folhagem
a preto e branco
síntese ou ausência da cor
senza cuore il senso
a cinza e a neve
il silenzio
sem refração
na espiral rectilínea
visto o registo
em curvilínea planura
As propriedades que o Marquês de Pombal possuía em Oeiras englobavam oito olivais, cuja colheita era transformada no Lagar de Azeite, parcialmente recuperado.
Uma parte do jardim, na margem esquerda da Ribeira da Laje, é o Jardim Público da Vila, estendendo-se quase até à estrada marginal. É dos Jardins do Palácio e do exterior deste que falam as photos seguintes.
vem de entre eros e afrodite 23 - cartas a Penélope 09
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Uma Photographia por si só vale por mil palavras?