* Victor Nogueira
Lourinhã - Viemos em busca desta povoação na sequência dum programa televisivo de José Hermano Saraiva, Horizontes de Memória, a ela dedicado. Da memória do programa ficaram-me as imagens e as histórias do cabeço onde outrora ficava o castelo e hoje se encontra uma igreja gótica, do século XIV, com magnífica vista de campos cultivados, que outrora alimentavam Lisboa, pesasse embora o desprezo da burguesia pelos saloios que a alimentavam, bem como as pinturas da antiga Misericórdia salvas do desbarato anticlerical do século XIX, para além dos ovos de dinossauro preservados no museu local.
Mas disto apenas encontramos a igreja, porque a noite é adiantada, a vista não rompe a escuridão e as portas se não abrem apenas porque tal seja meu desejo.
As pessoas vão para a missa à Igreja do Convento de Santo António, em cujo interior painéis de azulejos contam a vida de Santo António. As ruas estão iluminadas devido à quadra natalícia e engalanadas com a propaganda eleitoral. Lateralmente à igreja um largo parque de estacionamento, bordejado pelo Tribunal, Correios e quartel de Bombeiros, as camionetas da carreira estacionadas na garagem das estrelas. No outro lado da igreja um pequeno largo ajardinado com praça de táxis, donde partem uma série de ruas pedonais bem, conservadas, que percorremos. Contudo esta boa conservação é apenas para inglês ver, pois que as interiores estão mal cuidadas! Da toponímia registo apenas a travessa da Misericórdia e as ruas dos Arcipestres e da Misericórdia. Nesta última encontra-se a igreja do mesmo nome, com um portal manuelino, para além duma discoteca a cuja entrada inúmeros jovens cavaqueiam. Seguindo pela rua acima chegamos a uma escadaria, após a qual deparamos com a trazeira da igreja gótica, iluminada, cercada de andaimes. (1)
Daqui seguimos para Praia d'El Rey, terra de marisco, mas o negrume da noite em nada facilita a diligência, pelo que nos encontramos a descer rumo a Lourinhã, cuja igreja matriz brilha lá em baixo no cimo do cabeço, feericamente iluminada.
Neste circuito ainda tomo notas sobre Atalaia, povoação simpática sem nada de relevante, salvo a existência duma igreja moderna com ninhos de andorinha e torre sineira, tocando as horas com sonora Avé Maria! (Notas de Viagens 1997.12.05)
Foi Gonçalo Mendes senhor da Lourinhã, mas tendo apoiado o rei de Castela contra o futuro D. João I, os seus domínios foram entregues a um dos partidários do Mestre de Avis, o bispo [de Braga] D. Lourenço Vicente, cujo corpo mumificado se encontra na Sé de Braga, responsável pela edificação renovada da Igreja de Santa Maria do Castelo. O donatário seguinte foi o célebre João das Regras, de quem descenderam os Condes de Monsanto, o 3º dos quais, D. Pedro de Meneses, enriqueceu o recheio dos templos, designadamente com os quadros do chamado Mestre da Lourinhã, que se encontram na Igreja da Misericórdia. (...)
Percorro a Rua da Misericórdia até à Igreja de Santa Maria do Castelo e, após um pequeno bosque, vou até ao cruzeiro no sítio onde se erguia o castelo, do qual não existem vestígios, apenas vasto miradouro. Tal como a Igreja do Convento de Santo António também estas duas estão encerradas. Note-se que num dos painéis de azulejos da Igreja do Convento no altar mor, se representa o Milagre da Mula. A Igreja de Santa Maria é de estilo gótico, datando do século XIV. A da Misericórdia, com o edifício do antigo Hospital, data do século XVI, renascentista. A capela adjacente é mais antiga e possui um belo portal manuelino. O estar fechada impede que possa admirar o rico espólio museológico, designadamente de pintura quinhentista, de autores portugueses, um dos quais já atrás foi referenciado. (Na Rota dos Dinossauros, 2013.08.20)
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(1) - Neste local ermo apanhamos um valente susto. Ao contornar a igreja, encontramos uma motocicleta estacionada mas, prosseguindo, afoitamente, chegamos à fachada principal, que não tivemos tempo de admirar e fotografar, pois alguém assomou e gritou por entre os arbustos; resolvemos abreviar a visita e procurar local menos isolado, incomodados pelos passos rápidos que se aproximam até que surge um jovem de capacete na mão, olhar esgazeado e fixo, dirigindo-se-nos sem responder às minhas interpelações, sempre a direito em direcção a nós, sem que eu encontre no chão algo que permita defender-me. Tratava-se afinal dum surdo mudo, que pareceu querer falar-nos das obras na igreja, cuja conversa procurei abreviar pois poderia apenas estar a entreter-nos até aparecer mais alguém. Conseguimos largá-lo e ele foi noutra direcção interpelando alguém mais além na rua deserta, o que em nada contribuiu para aumentar o nosso sossego. Estugámos o passo, descemos a escadaria rumo ao grupo de jovens, ouvimos uma motorizada aproximar-se, alcançamos os jovens e a motorizada passa por nós, pára e o jovem mudo faz grandes gestos de alegria por encontrar-nos e segue viagem rumo ao largo lá mais abaixo. Não ganhámos para o susto! Mas resolvi voltar à igreja, para admirá la, desta feita de carro, mas nem parei quando lá encontrámos dois ou três carros despejados dos seus ocupantes, rapazes de mau aspecto àquela hora tardia e solitária, pelo que segui viagem sem abrandar, não fosse aquele local de prostituição e tráfico de droga!
O convento era inicialmente constituído por uma pequena igreja, e em 17 de Novembro de 1601, iniciaram-se obras de ampliação que se prolongaram por vários anos, devido à grandeza e volume do edifício e às dificuldades monetárias dos frades.
Património Cultural - Lourinhã e Atalaia
Lourenço Vicente / Arcenispo de Braga / Primaz das Espanhas / Natural da Lourinhã / 1332 - 1397
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Uma Photographia por si só vale por mil palavras?