terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Guarda, na Beira Alta

 * Victor Nogueira




Porta d'El Rey



Antigo tribunal judaico






Rua S. Vicente de Paulo


Sé da Guarda


Sé e Praça Velha ou de Luís de Camões)









Rua do Torreão  - pôr do sol por entre as árvores

Guarda

Alta cidade da vetusta beira | Entalhada na monstra serrania | Chamem-te embora farta/ forte/ falsa e fria | Mas és também fidalga hospitaleira - Júlio Ribeiro

A  entrada na Guarda (1056 m), vindo de Vila do Touro, é muito arborizada mas depois começam as pedreiras e acaba o encanto. A pé entramos pela maciça Porta do Ferreiro, outrora defendida por inexpugnável porta de ferro, deste modo penetrando nas estreitas ruas medievais, que vão desembocar na praça principal, a Praça Velha, onde se situam a Sé, o antigo edifício dos Paços do Concelho e prédios de arcadas num dos lados. Em 1993 os Paços do Concelho foram transferidos para um novo edifício, simbiose das influências estéticas de edifícios históricos como  as torres sineiras da Sé, varandas de ferro forjado e a réplica dum frontão característico de edifícios municipais doutras eras. Fora de muralhas, junto à Porta do Ferreiro, a Igreja da Misericórdia, templo barroco, e o floreado pelourinho.

A Sé, templo essencialmente gótico, levou muito tempo a ser construída, prolongando-se por mais de duzentos anos, resultando um ar inacabado, uma mistura de vários estilos, um ar pesado, fortificado e atarracado. O interior da Sede Episcopal é contrastante com o seu exterior, apresentando uma enorme leveza. Desperta a nossa atenção o retábulo do altar‑mor, de pedra de Ançã, da autoria de João de Ruão, constituído por mais de 100 figuras, colocadas em vários “andares”, mais precisamente seis, algumas das imagens mutiladas por terem servido de alvo aos soldados duma das invasões francesas. O retábulo representa a Paixão e Morte de Jesus Cristo. No exterior duas portas manuelinas, uma na fachada principal, apertada entre as duas torres sineiras, outra na fachada lateral, virada para a Praça Velha. (1)

Embora já  estivesse a encerrar, o pároco deixou-nos entrar na Sé, enquanto eram recolhidas as esmolas das respectivas caixas, enchendo um pesado saco que o sacristão, derreado, acompanhado pelo padre, transporta pela rua pela rua abaixo, terminada a nossa visita.

Nas ruas medievais casas nobres coexistem com modesto casario de pedra granítica.

Na rua D. Sancho, 9/13, a casa dos encontros amorosos de D. Sancho com a filha dum rico mercador judeu, que acabou os seus dias recolhida num convento, como bem convinha aos costumes da época.

 Ay eu coitada! | Como vivo en gran cuidado | Por meu amigo | Que ei alongado! | | Muito me tarda | O meu amigo na Guarda || Ay eu coitada | Como vivo em gran desejo | Por meu amigo | Que tarda e não vejo! | Muito me tarda | O meu amigo na Guarda! (D. Sancho I)

Mas outro rei se tomou de amores por uma filha da terra - D. João I apaixonou-se pela filha dum sapateiro, o qual em sinal de desgosto pelos amores e gravidez da filha nunca mais aparou a barba. O real filho bastardo acabou por ser o 1º Duque de Bragança.

Judiaria e pequeno edifício com escada exterior alpendrada - antigo tribunal judaico. A perseguição Judiaaos judeus em Espanha fez convergir para esta zona do País inúmeros deles.

Toponímia: Ruas Direita, do Amparo (judiaria ), do Torreão (foto ao pôr do sol por entre as árvores), Nova, das Tílias, dos Clérigos, da Torre, do Comércio, dos Mercadores, da Fraternidade, da Paz, Portas do Curro, dos Ferreiros, da Erva, d’El Rey, Praça Velha (ou de Luís de Camões), Largos do Torreão, da Judiaria (tribunal judaico), Travessa do Povo

Na Guarda se estabeleceu o Bandarra, sapateiro, cristão novo e visionário (profecias do Bandarra) nascido em Trancoso e de que existem descendentes nesta cidade que visitamos.

Regressamos de noite à Covilhã, em estrada estreita e sinuosa, à beira dum precipício assustador, os outros carros passando velozmente ou ultrapassando de qualquer maneira Um pequeno descuido e lá iria pela ribanceira abaixo! (Notas de Viagens 1998.07.13)

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(1) - ~Da Guarda era uma cozinheira já idosa, Ana de Jesus, em casa dos meus pais em Luanda, e que me me falava da sua terra natal eda Sé que demoara tmpos infindos a ser concluída, como as chamadas obras de Santa Engrácia, em Lisboa

(rolo 364) - foto em 1998.07.13


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