`Victor Nogueira
Aqui se referenciam os chafarizes, azulejados, da antiga freguesia de Carnaxide: nesta povoação e em Linda-a-Pastora. Se os painéis de azulejos que ornamentam os chafarizes de Linda-a-Pastora reproduzem cenas campestres, essas representações já nada têm a ver com a actual povoação, Por estas bandas residiram Cesário Verde e Camilo Castelo Branco.
Linda-a-Pastora
Linda-a- Pastora - Alcandorada na AE, pela encosta acima, mantém um ar de povoação rural, de edifícios em degradação, perdida no meio da auto-estrada e das vivendas que se vão construindo mais a cima. As ruas são estreitas, labirínticas, tortuosas, algumas simples becos ou pedonais de escadaria acima (ou abaixo), como na Alfama lisboeta, algumas conservando os nomes característicos de outrora Becos das Mouras, dos Namorados, dos Pombais e do Veríssimo, Travessas do Carambola, do Ferrador e da Bomba (este terminando no Casal do Poço, mesmo ao lado da auto estrada) e Calçadas do Lavra e do Rei, Ruas do Lavra e da Serra de S. Miguel, Largo da Bica.
A meia encosta, com um pequeno adro, situa se a Capela de S. João Baptista, de traça simples e barras azuis, para além do quartel de bombeiros voluntários. As casas são ainda rurais e uma delas com uma data: 1848, possuindo outras registos de azulejos, actuais. Na rua do Lavra um cão, de ar triste e cara de urso, olha para a rua, o pescoço enfiado nas grades, não ladrando a quem passa. Sentada no poial duma casa uma velhota costura e resisto à tentação da fotografia. As Fontes de Santa Ana e outra no adro da Igreja possuem painéis de azulejos com cenas campestres.
Mais para oriente, sobranceiras e ao longo da auto estrada, estendendo se até ao Santuário da Senhora da Pedra, muitas barracas e casas abarracadas.
Foi esta uma terra de vistas aprazíveis, sobre o vale verdejante do Jamor, terra agrícola e bucólica, que se perdeu, não se ouvindo já quaisquer rumorejar das águas ou da folhagem, chilrear de pássaros ou chocalhar de animais; hoje, a paisagem são os carros passando velozes na auto-estrada, num rumor contínuo, vinte e quatro horas em vinte e quatro horas, em manobras por vezes mais ou menos arriscadas e enfeixando se uns nos outros. Cesário Verde, que por aqui deambulou, não encontraria já o bucolismo que descreveu nos seus poemas. (Notas de Viagem, 1997)
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Uma Photographia por si só vale por mil palavras?