* Victor Nogueira
«A ocupação humana do Estuário do Sado esteve desde sempre ligada à pesca e à recolha de marisco, como testemunham os concheiros neolíticos ainda hoje conservados na região. Durante o domínio romano da Península Ibérica prosperou a exploração desta costa muito rica em peixe, e a pesca intensiva levou ao desenvolvimento da indústria de conserva e transformação do pescado. Esta região chegou a possuir uma das maiores concentrações de unidades industriais de preparados de peixe de todo o Império, incluindo o garum, ou pasta de peixe salgada, que na época constituía valiosa moeda de troca.
Naturalmente, as fábricas de salga e o comércio derivado apenas se puderam desenvolver graças a actividades acessórias, como a extracção do sal e a olaria, levando a que toda a produção do baixo Sado estivesse articulada em torno da indústria piscícola. Assim se podem contextualizar os muitos barreiros (zonas de extracção de barro) e fornos que se têm encontrado nas margens do Sado, e onde eram produzidos os recipientes cerâmicos destinados a envasilhar os derivados do peixe.
Os fornos situavam-se sempre junto de barreiros e de acessos fáceis à água e à lenha, indispensáveis para a actividade produtiva e para o transporte dos potes e ânforas, tal como acontece no caso dos fornos da Herdade do Pinheiro. Estes localizam-se na zona baixa da propriedade, numa área de sapais, que era anteriormente acessível por um braço de rio.
Trata-se de um conjunto de cinco fornos, sendo dois deles contíguos, junto dos quais se escavou ainda uma cozinha com lareira e forno doméstico e diversos caqueiros. Os fornos industriais foram construídos com adobes e tijolos cerâmicos, e são antecedidos por um atrium revestido lateralmente por blocos calcários. As infra-estruturas integram cinco arcos que suportam uma grelha de agulheiros rectangulares muito mal conservada. Embora a parte superior dos fornos tenha sido destruída, estes constituem até à data os exemplares melhor preservados no país.
O complexo laborou entre os séculos I e V, tendo fabricado ânforas de tipos já conhecidos, como as Dressel e Almagro, e também pelo menos mais uma tipologia nova, primeiramente denominada "Lusitana 1", que seria exclusivamente produzida na região. Várias ânforas possuem marcas estampadas com o nome do produtor e esgrafitos de controlo da produção.
A área protegida inclui os terrenos onde se encontram vestígios dispersos da cerâmica aqui produzida, incluindo telha, tijolo e cerâmicas comuns.» Sílvia Leite / DIDA- IGESPAR, I.P. / 2011 in
Hoje a Herdade do Pinheiro divide a sua actividade entre a hotelaria, coudelaria e criação de gado. Ver
History | Herdade do Pinheiro
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Uma Photographia por si só vale por mil palavras?