domingo, 11 de outubro de 2020

fornos romanos, na Herdade do Pinheiro

* Victor Nogueira

Na margem esquerda do Rio Sado, a meio caminho de Alcácer do Sal, inflectimos para Poente, atravessamos a linha férrea sem passagem de nível, a visibilidade  quebrada por esta fazer uma curva, e seguimos em frente até à Herdade do Pinheiro, junto aos sapais ou esteiros do Sado, em busca dos fornos romanos. 

É apenas isto que a minha memória retém e não o que as fotos por mim tiradas testemunham, como se novidade fosse. Nelas figuram pessoas, a Celeste e o Rui Pedro, pelo que devem datar do início dos anos '80 do passado milénio. Não foi uma excursão, pois sempre fui avesso a excursões colectivas, em "manada", e apenas em duas ou três participei em toda a minha já longa existência. Quem são as outras pessoas desconheço. quem é quem fala com a Celeste é um mistério, que hoje nem Poirot, nem Miss Marple, nem Sherlock Holmes, muito previsivelmente, conseguiriam solucionar.







Casas tradicionais das margens do Sado


«A ocupação humana do Estuário do Sado esteve desde sempre ligada à pesca e à recolha de marisco, como testemunham os concheiros neolíticos ainda hoje conservados na região. Durante o domínio romano da Península Ibérica prosperou a exploração desta costa muito rica em peixe, e a pesca intensiva levou ao desenvolvimento da indústria de conserva e transformação do pescado. Esta região chegou a possuir uma das maiores concentrações de unidades industriais de preparados de peixe de todo o Império, incluindo o garum, ou pasta de peixe salgada, que na época constituía valiosa moeda de troca.

Naturalmente, as fábricas de salga e o comércio derivado apenas se puderam desenvolver graças a actividades acessórias, como a extracção do sal e a olaria, levando a que toda a produção do baixo Sado estivesse articulada em torno da indústria piscícola. Assim se podem contextualizar os muitos barreiros (zonas de extracção de barro) e fornos que se têm encontrado nas margens do Sado, e onde eram produzidos os recipientes cerâmicos destinados a envasilhar os derivados do peixe.

Os fornos situavam-se sempre junto de barreiros e de acessos fáceis à água e à lenha, indispensáveis para a actividade produtiva e para o transporte dos potes e ânforas, tal como acontece no caso dos fornos da Herdade do Pinheiro. Estes localizam-se na zona baixa da propriedade, numa área de sapais, que era anteriormente acessível por um braço de rio.

Trata-se de um conjunto de cinco fornos, sendo dois deles contíguos, junto dos quais se escavou ainda uma cozinha com lareira e forno doméstico e diversos caqueiros. Os fornos industriais foram construídos com adobes e tijolos cerâmicos, e são antecedidos por um atrium revestido lateralmente por blocos calcários. As infra-estruturas integram cinco arcos que suportam uma grelha de agulheiros rectangulares muito mal conservada. Embora a parte superior dos fornos tenha sido destruída, estes constituem até à data os exemplares melhor preservados no país.

O complexo laborou entre os séculos I e V, tendo fabricado ânforas de tipos já conhecidos, como as Dressel e Almagro, e também pelo menos mais uma tipologia nova, primeiramente denominada "Lusitana 1", que seria exclusivamente produzida na região. Várias ânforas possuem marcas estampadas com o nome do produtor e esgrafitos de controlo da produção.

A área protegida inclui os terrenos onde se encontram vestígios dispersos da cerâmica aqui produzida, incluindo telha, tijolo e cerâmicas comuns.» Sílvia Leite / DIDA- IGESPAR, I.P. / 2011 in 

 Hoje a Herdade do Pinheiro divide a sua actividade entre a hotelaria, coudelaria e criação de gado. Ver 

History | Herdade do Pinheiro

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