segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Alcácer do Sal

 * Victor Nogueira / JJ Castro Ferreira

Foi um deslumbramento a visão de Alcácer do Sal, reflectida nas águas do Sado, encosta acima ou abaixo, proveniente do Sul. Fui feliz em Alcácer do Sal, nos idos dos anos '70 do passado milénio, sediados no Monte da Arouca, a poucos quilómetros da vila, uma aldeia no latifúndio dos Lince, que na sequência do processo da Reforma Agrária se constitui como Unidade Colectiva de Produção Soldado Luís. Voltei mais demoradamente à Vila em 2000, mas essas fotos ainda não estão digitalizadas. Ficam essencialmente e por enquanto as dos anos '70

1974

A nossa viagem da Salvada para Lisboa correu bem. A paisagem era bonita e vimos grandes arrozais e salinas. Das povoações que atravessámos apenas retive Alcácer do Sal com o seu castelo no cimo do monte, a vila debruçada à beira-rio; um quadro lindo. (MCG - 1974.01.02)

A comida é carota - Ou as pessoas são forretas ou a luz aqui em Alcácer [do Sal] é cara. Detesto esta luz. Acabei por vir jantar aqui na esplanada onde estivemos à tarde. É carote: 40 a 50 paus a dose. SAFA! Já é noite, embora ainda se distinga o azulado do céu.  (MCG - 1974.09.14)

A camioneta sai daqui a pouco para Montemor. Está sol. (…) Já engraxei os sapatos e estou mais apresentável. Gosto de ti, por quem hoje estou com vontade de ternurinhas, mas não pode ser. (MCG 1974.10.28)

Apaixonei-me por Alcácer [do Sal] desde a 1ª vez que a avistei, vindo do Sul, debruçada sobre o Rio Sado, onde se reflectia. Gosto das suas ruas que vão subindo até ao Castelo Mouro, outrora arruinado e hoje em recuperação para ser mais uma pousada, desde 1998.  (...)

É uma povoação que se desenvolveu ao longo do rio, subindo por ruas íngremes, por escadarias ou atravessando arcos. Duas ruas paralelas ao rio, na parte baixa, uma marginal, outra interior. No castelo arruinado, ninhos de cegonhas. (Notas de Viagem, 1998)

Toda esta vasta região de Alcácer do Sal é arenosa, testemunho da sua cobertura pelo mar, antes deste recuar deixando a descoberto esta fina areia branca, aqui e ali quebrada por afloramentos calcários, acastanhados; para além de sobreiros, oliveiras e pinheiros, na região abunda o pinheiro manso, coberto vegetal característico, sendo a principal cultura o arroz, de regadio.. (Memórias de Viagem, 1997.08.20)

Alcácer do Sal é uma urbe fundada pelos fenícios  cerca de 1000 a.C, um entreposto comercial que  fornecia sal, peixe salgado, cavalos para exportação e alimentos para os barcos que comerciavam estanho com a Cornualha. O Rio Sado era uma estrada comercial, navegável ligando a povoação ao estuário fluvial.  Duas importantes actividades económicas eram a pesca e a exploração do sal . 

Com a invasão visigótica tornou-se sede episcopal. Conquistada pêlos árabes, estes designavam-na como  Qasr Abu Danis (Palácio ou Castelo do filho de Danis), que a transformaram numa das mais inexpugnáveis praças militares da Península Ibérica. Os viquingues teriam tentado saqueá-la mas sem sucesso. 

Durante o domínio árabe, foi capital da província de Al-Kassr. D. Afonso Henriques conquistou-a em 1158. Reconquistada pelos muçulmanos, só no reinado de D. Afonso II, e com o auxílio de uma frota de cruzados, a cidade foi definitivamente conquistada, tornando-se cabeça da Ordem de Santiago, poderosa donatária de imensos territórios a sul do Rio Tejo.

Um passeio a pé por Alcácer do Sal revela a parte mais encantadora desta cidade, com as suas vielas e escadinhas que trepam até ao castelo. Há monumentos de interesse como a Igreja de Santa Maria do Castelo, a Ermida do Senhor dos Mártires, a Igreja de Santo António, a Igreja de Santiago, o Museu Municipal de Arqueologia (na antiga Igreja do Espírito Santo), a Cripta Arqueológica e a estação arqueológica do Fórum Romano.

Entre 1977 e 1981 voltei mensalmente a Alcácer, para realizar o Inquérito Permanente ao Emprego, como agente de censos e inquéritos do  INE, no distrito de Setúbal, que nesses anos percorri de lés-a-lés. Retornei posteriormente, já no dobrar do milénio, entre 1997 e 2000, mas a maioria das fotos destas últimas perambulações ainda não estão digitalizadas.

As fotos de minha autoria datam dos anos 70 do passado  milénio; as  de jj castro ferreira, assinaladas com (*), são pouco posteriores a 1998, pois nelas verifica-se que o castelo e o convento já estão reabilitados, após profundas obras que os retiraram da ruína.


(c. 2000)

(vista do castelo - 1974)


(Vista da ponte pênsil)

  (*)

(esta ponte pênsil ligava anteriormente o Seixal e o Barreiro)

 (*)

  (*)


(pilares onde as cegonhas passaram a nidificar, em alternativa ao castelo)

 (*)

(o castelo e o convento, agora recuperados e com a função de pousada)

(Igreja de Santiago - c. 2000)


(c. 2000)


(c. 2000)


(a urbe ribeirinha)





Susana no Jardim da Avenida [dos Aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral] (1977) 01


(Rua do Soudo)




(Susana, Celeste e senhora Catarina)

(Largo Luís de Camões) - Neste Largo muito movimentado se encontravam a praça dos taxis e paravam os autocarros das carreiras e bastante comércio.



(Igreja de Santiago - Senhor Custódio, Celeste, Susana e senhora Catarina)

(Junto ao cais, foto Celeste Gato)


(estátua de Pedro Nunes, matemático e cosmógrafo - 1502 / 1578, de autoria do escultor António Luís do Amaral Branco de Paiva)


Alcácer do Sal – Igreja do Espírito Santo - Mural do PRT (Partido Revolucionário dos Trabalhadores)

Fundado a 15 de outubro de 1894, em resultado da junção do espólio arqueológico depositado na Câmara Municipal e de doações do padre Matos Galamba e de Joaquim Correia Batista, o Museu Municipal de Alcácer do Sal é, sem dúvida, um dos mais antigos do País.

Em 1896 o acervo arqueológico foi enriquecido com a doação de António Faria Gentil do espólio da Idade do Ferro, proveniente da necrópole do Olival do Senhor dos Mártires.

Após anos de abandono e desvio de algum do seu rico espólio, o 25 de Abril de 1974 inaugurou uma nova fase na evolução do espaço. A antiga denominação de Museu Municipal de Alcácer do Sal foi alterada para Museu Municipal Pedro Nunes por iniciativa do Executivo camarário a 10 de março de 1979, homenageando deste modo um dos maiores vultos nascidos nesta cidade. Em 1988 abriu oficialmente ao público com uma exposição permanente de objetos arqueológicos.

Fechado desde 2007 devido a um avançado estado de degradação, iniciou-se uma nova fase com o objetivo de se requalificar este espaço. As escavações arqueológicas aqui efetuadas revelaram uma diacronia ocupacional, com uma potência estratigráfica com cerca de dois metros de profundidade, documentando uma ocupação desde os séculos. III/IV a.C. até à época muçulmana, perdurando posteriormente como espaço funerário durante os séculos XIV/XV a XIX. Estes vestígios são compostos por estruturas correspondentes a pequenas habitações e níveis de lixeiras, estando bem delimitadas espacialmente.

Atualmente [2018], a autarquia está a efetuar o projeto de requalificação e musealização do Museu Municipal Pedro Nunes (Igreja do Espírito Santo). O futuro espaço continuará a ser encarado como um edifício sagrado, signo de transcendência, lugar de memória, identidade e sentido, conciliando desta forma a vertente religiosa com a ocupação do espaço anterior à construção do edifício. ([1])







(foto Emília Gato)






(Ruínas do Castelo e do Convento Carmelita Araceli, no seu interior, no que era a alcáçova medieval) 

Rodeado por duas linhas de muralhas, o castelo de Alcácer do Sal é um exemplar raro de construção militar em taipa. As escavações arqueológicas realizadas nas imediações da fortificação permitiram encontrar vestígios do Neolítico, da Idade do Ferro e dos períodos de ocupação romana e árabe. Algumas das peças descobertas podem ser apreciadas no museu presentemente existente no conjunto edificado.


Santuário do Senhor dos Mártires, em Alcácer do Sal


O Rio Sado ao pôr do sol (1975.01) - Na outra margem, os arrozais, que ao anoitecer despejavam na vila hordas de mosquitos, tal como no Monte da Arouca, mais a sul


(casas tradicionais das margens do Rio Sado)

(embarcações do Rio Sado)


(Um cão ... cumprimentador)


Murais e jornais de parede






(1974)





(1976)


(1977)


(1980)


(1980)


(1980)

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