sexta-feira, 24 de abril de 2020

Setúbal, em dias de quarentena e fantasmagoria 02

* Victor Nogueira

Inopinadamente, afrontando com brevidade deuses. ínvias potestades  e os interditos, de Ítaca veio Penélope até à beira-Sado. Que teias  tece Ulisses sabem os seus botões, os botões de João Baptista Cansado da Guerra.  Não serão as mesmas que Penélope tece. João Bimbelo fez todos os meios caminhos como andarilho e para lá disto nada existe. Desceu pois Penélope ao povoado de João Bimbelo, não um povoado como cidade aberta sem muros nem ameias, desassombrado, mas um povoado entre mil aldeias encerradas, de muros, barreiras e insanos medos e angústias, que João, racionalmente,  não partilha.

Caminha pois João Baptista Cansado da Guerra com Penélope, percorrendo as ruas da cidade deserta. O Largo da Fonte Nova está vazio de pessoas, salvo uma ou outra que passa, duas jovens sentadas nos bancos com os cães pela trela e pombos que deambulam pelo chão, indiferentes ao  SARS-COV-2. Também João e Penélope descansam brevemente num dos bancos do Largo.. E João repara que pelo Troino, bairro que foi de pescadores e hoje da restauração, estão fechados os estabelecimentos comerciais e a esmagadora. maioria das casas de comes e  bebes, como aliás na Luísa Todi. Repara João que há mais caixas da EDP pintadas com motivos alusivos ao mar e à pesca, que fotografa. Mas isso será tema para outra publicação.

No percurso vai pois João fotografando e alguém a seu pedido suspende o estacionamento do carro para que ele possa fotografar um mural. Penélope estranha o silêncio. é uma cidade diferente, diz ela, uma cidade sem ruído, (quase) sem movimento e sem azáfama, que anteriormente percorrera com João Bimbelo.

Passam pelas Fontaínhas e Penélope diz que gostaria de conhecer essa Setúbal medieval, que João diz ser de ruas estreitas, como na Alfama e Mouraria ulissiponenses, com a sua Porta do Sol ou da Moura Encantada. de Palhais intra-muros e, fora deles, a Nascente, S. Domingos, das casas conventuais, e as Fontainhas, dos pescadores, tal como para Poente o Troino, outrora separado da Vila pela Ribeira do Livramento, também povoado de pescadores, também com as suas casas conventuais,  tudo unificado com o passar dos tempos, numa vila que ps«assou a ser designada como Setúbal, no século XIX  alcandorada a cidade. Mas esta é. como muitas outras, uma deambulação que ficará para tempos vindouros se esse for o intento e desejo de Penélope

Rumam de seguida até à zona industrial da Mitrena e João apercebe-se de como é desolado, agreste, falho de vida, este caminho que outrora percorreu muitas vezes, incluindo aqueles dois anos em que aos operários  deu aulas nos Estaleiros da Setenave. Já lá não estão as chaminés da Central Termo-Eléctrica ou os pequenos estaleiros navais que bordejavam as margens do Estuário do Rio Sado, Mas Penélope diz que gostou de conhecer e lhe agradou esta outra face de Setúbal, uma face que os turistas desconhecem.


Travessa Álvaro Anes


Rua Ladislau Parreira



 Mercearia Mafaria ao Largo
Praça Machado dos Satos




Rua Vasco da Gama







Café Restaurante A Brasileira


Rua do Ligeiro





Largo Joaquim António Correia




Pizzaria Kefish Take Away





Largo da Fonte Nova, Palácio Feu Guião e Monumento a Mariana Torres, operária assassinada pela GNR durante uma manifestação por melhores condições de vida e de trabalho, em 1911






Praça Machado dos Santos


Rua Ladislau Parreira


Avenida Luísa Todi (Fontaínhas)



Local onde estiveram as demolidas chaminés da Central Termo-léctrica



Esteiros do Rio Sado e ruínas do Moinho de Maré da Mitrena


fotos em 2020.04.23

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Uma Photographia por si só vale por mil palavras?