segunda-feira, 20 de abril de 2020

Setúbal em dias de quarentena e fantasmagoria

* Victor Nogueira


Estão (quase) desertas as ruas, (quase) desertas de pessoas, (quase) desertas de trânsito automóvel. E plenas de silêncio, quase total o silêncio, salvo o rolar dos pneumáticos no piso das artérias que percorro. Os estabelecimentos de restauração e a esmagadora maioria dos estabelecimentos comerciais estão encerrados Abertos na Luísa Todi estão uma Farmácia e o Pingo Doce, que beneficia do encerramento dos restantes. Há zonas da cidade em que o trânsito automóvel está proibido, como para a Praia da Saúde e Parque Urbano de Albarquel. Estão soalheiros os dias, de céu azul, límpido, cintilante, aqui e além com nuvens brancas.

Paro para fotografar alguns murais e grafitos, dou alguns passos para desentorpecer as pernas, mas fora isso não me apetece sair do carro e é através do vidro ou pela janela que fotografo outra  temática. Verifico que em certos pontos da cidade há painéis com fotografias de Américo Ribeiro. Terei de noutra ocasião fazer o seu levantamento e registo fotográficos, como outrora fiz para a poesia de Bocage que esteve espalhada pela cidade (1)

A maioria das vezes que saio é para ir ao talho ali na avenida, ao mini-mercado Primavera um pouco mais longe, à farmácia, do outro lado da avenida. Ir às compras é um modo de conviver e de falar com pessoas. Quando chego, normalmente o António, um miúdo cigano, vem ter comigo para dar dois dedos de conversa e perguntar-me se quero ajuda para levar os sacos do Fiesta até ao elevador. Umas vezes aceito, outras não. Depende do carrego.

Não me apetece andar sozinho. Em quarentena, Portugal é um país de zombies, insano, formigas no carreiro que não questionam quem os pastoreia nem a razão profunda disso. A maioria terá perdido o discernimento, substituído pela ansiedade, pela angústia, pelo medo, pela atomização, que lhes é diariamente instilada pelos meios de comunicação social.

O cabelo comprido já me incomoda e o relógio de pulso caiu ao chão, quebrando-se o vidro. Aguardo que reabram o barbeiro e a Ourivesaria Pedroso), aquele ali na Baixa de Setúbal onde pouca despesa faço mas onde sou sempre atendido como se fosse um cliente importante. Com a mesma simpatia da loja do Alves, onde normalmente compro o vestuário. Terão conseguido resistir à crise?

Há no Centro Histórico estabelecimentos comerciais de que era cliente que ao longo dos anos têm encerrado: a livraria Antecipação (do Graça), a loja em que comprava luvas e cintos, o oculista Pires, a cervejaria Reno e o Café A Brasileira, a tabacaria do Loureiro, a Drogaria os Pachecos, a loja de artigos eléctricos, a Drogaria Alice e o alfarrabista de vão de escada, estes três na 5 de Outubro  ...















Avenida Afonso de Albuquerque












Largo Celestino Rosado PintoLargo Defensores da República







Porta de S. Sebastião e Rua Arronches Junqueiro


Travessa da Anunciada

Avenida Luísa Todi e antigo Baluarte da Conceição


A Margem Sul não precisa do PNR

A luta anti-fascista continua
Ruínas da antiga fábrica de conservas de peixe Vasco da Gama


Queremos trabalho

Estrada da Graça
Avenida Belo Horizonte

Ermida de Santo António no Parque Verde da Belavista





Fotos em 2020.03 e 04

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Uma Photographia por si só vale por mil palavras?