terça-feira, 21 de novembro de 2017

A Quinta e os Conventos em Alferrara

* Victor Nogueira

As minhas "caminhadas" este fim de semana foram a uma "vila operária": o Bairro  Baptista, em Setúbal. Esta semana tenho de aproveitar um dia soalheiro para ir até à Quinta de S. Paulo, espaço de lazer, entre Palmela e Setúbal, em Alferrara, onde se encontram a nascente e mãe de água do aqueduto de Setúbal, e as ruínas dos Conventos de S. Paulo e de N. Sra da Conceição







fotos victor nogueira, in illo tempo


Situados com uma distância de cerca de 300 m e sensivelmente na mesma elevação da falda da Serra dos Gaiteiros, erguem-se «a noroeste da cidade de Setúbal, na orla do vale verdejante que se estende desde Palmela»(*) e em território já pertencente a este concelho. As razões para a escolha deste lugar de implantação terão sido «a beleza do sítio, a amenidade dos ares, a abundância de água, a abundante vegetação, a fauna e flora paradisíacas e o esplendor de uma desafogada paisagem».
São dois os monumentos em causa:



Antigo Convento de Nossa Senhora da Consolação de Frades da Ordem de São Paulo, de Alferrara 

(vulgo Convento de São Paulo; 1383);




Convento de Nossa Senhora da Conceição dos Frades Franciscanos Capuchos de Alferrara 

(vulgo Convento dos Capuchos de Alferrara; 1578).

CONVENTO DE SÃO PAULO
Este convento já sofreu obras de sustentação, marcando assim o início da intervenção no mesmo. As obras centraram-se na implantação de uma estrutura de protecção das águas da chuva, consolidação da estrutura principal do edifício e cobertura de paredes expostas aos elementos. Toda a envolvente tem sido alvo de regulares intervenções ao nível da limpeza dos terrenos e arranjo dos caminhos. As restantes intervenções necessárias estão dependentes do levantamento topográfico e arquitectónico que está a ser efectuado. Com base nestes levantamentos fundamentar-se-á a necessária intervenção neste edifício.

Acesso
É feito a partir do vale que antecede a plataforma isolada em que o Convento se situa «através de um íngreme caminho em zigue-zague, suportado por muros de alvenaria contrafortados. Este acesso termina numa esplanada em frente da igreja, com esplêndida vista sobre o Sado e a cidade de Setúbal, delimitado por um muro com assentos de pedra, no qual se vêem alguns vestígios de azulejos policromos, pós-terramoto.» (*)

Igreja
Com nave rectangular coberta por abóbada de berço que termina no arco triunfal, tendo o chão fragmentos de túmulos; «a capela-mor, menor que a nave, tem igualmente abóbada de berço»; «a frontaria da igreja separa os dois corpos do convento»;

Dois corpos monacais
a) «o mais estreito, onde estavam as celas e dormitórios, do lado direito, com a frontaria mais elevada que a da igreja, está completamente arruinado, em especial o último andar, sem cobertura»;



b) do lado esquerdo da igreja situa-se «o corpo do claustro, com um único andar coberto de terraço»; trata-se de um «belo espaço maneirista que conserva todos os elementos estruturais, muito sóbrios mas bem desenhados, realizado, provavelmente, na segunda metade do século XVII, durante a campanha de obras de 1672 (…). O claustro apresenta três arcos de volta inteira, apoiados em colunas toscanas de calcário (…). Mantém-se o chão de tijoleira, mas desapareceu o rodapé de azulejos das galerias.»

Terraço
«no ângulo noroeste do claustro, uma escada dá acesso ao terraço que cobre as galerias e outras dependências do mesmo corpo.»

Casa de Fresco 
«do lado oposto à igreja, conserva-se ainda a alameda de acesso à Fonte Santa.» Ao fundo, escavada na encosta, situa-se a «casa de fresco» da Fonte Santa ― «espaço em forma de gruta artificial totalmente decorada de embrechados, a qual devia ser utilizada pelos eremitas paulistas como local de meditação.» Considera-se esta Fonte Santa «uma das minúsculas mas maiores jóias do património artístico de Palmela».


CONVENTO DOS CAPUCHOS DE ALFERRARA
Apresentado-se mais degradado, também é alvo de sucessivas intervenções na envolvente como o desmatamento e arranjo dos acessos. Está também a ser alvo de um levantamento topográfico e arquitectónico, assim como uma avaliação das necessidades estruturais para se avançar para uma fase de sustentação.

Igreja 
«frontaria principal virada a poente e de grande interesse artístico», pois trata-se de «um dos exemplares mais interessantes da aplicação de estuques moldados em exteriores que existe em Portugal», só encontrando paralelos com monumentos situados nos antigos territórios portugueses da Índia; a frontaria está em risco de desabamento; «no vão central, um arco de volta inteira com as pedras rusticadas, e nos laterais remates rectos, apoiados em duas colunas, ao centro, e em duas meias-colunas, nas extremidades»; para além do nártex, «a igreja, resultante da reconstrução de 1639, tem apenas uma nave alongada, vazia, coberta por abóbada de berço de alvenaria estucada, compartimentada por arcos torais assentes numa cornija maneirista simples. (…) O arco triunfal mantém os pilares de cantaria até meia altura e o resto da estrutura, de tijolo, está despido. A capela-mor, quadrada, está igualmente vazia.» Adjacente à capela-mor, virada a nascente, situa-se o que se julga ser o recinto da sacristia, «de secção rectangular, com cobertura de abóbada de berço abatida» e «iluminada por duas janelas»;

Dependências monacais
Ao lado da igreja, na direcção sul, situa-se o edifício conventual; «todo o andar inferior é formado por muros grossos e por abóbadas de berço de robusta alvenaria». 
No centro do espaço conventual situa-se o claustro, que possui uma estrutura semelhante à de outros conventos capuchos, «com janelas no andar superior e as aberturas do inferior rematadas por lintel de pedra recto, em vez de arcadas, apoiado nos ábacos de quatro pilares de secção quadrada, nos cantos, e de duas colunas, muito toscas, em cada face.»
Junto do claustro situa-se uma dependência relativamente vasta, que se julga ter sido a sala do Capítulo.
«Próximo da portaria encontra-se outra dependência de construção cuidada, que deveria ter sido o refeitório, refeito em 1712». Como nos restantes espaços, «encontra-se coberto por abóbada de berço abatido, de alvenaria».



(*) Vítor SERRÃO e José MECO, Palmela histórico-artística: um inventário do património artístico concelhio, Lisboa/Palmela, Edições Colibri/Câmara Municipal de Palmela, 2007, p. 277-304. Todas as citações seguintes são retiradas desta fonte que apresenta uma descrição detalhada dos Conventos tanto do ponto de vista histórico como do ponto de vista artístico.

http://quinta.amrs.pt/conventos.html

ver também


antes das obras

Convento de S. Paulo de Alferrara reabre após 50 anos de abandono

in https://www.publico.pt/2017/06/25/local/noticia/convento-de-s-paulo-de-alferrara-reabre-apos-50-anos-de-abandono-1776710




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