* Victor Nogueira
O Forte de S. Filipe é das fortalezas tipo Vauban aparentemente mais estranhas, pese embora a beleza da paisagem envolvente.
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Naquele sítio e naquela época, os fortes eram «desguarnecidos» na parte virada para a povoação, até com um ar simpático, como sucede com o forte a nascente da Avenida Luísa Todi. Mas aquele tem altas muralhas, ameaçadores, impositivas, longos e sinuosos subterrâneos por onde deambulei devido a uma porta inadvertidamente deixada aberta, e tinha duas funções: defender a entrada do estuário e defender as tropas espanholas das revoltas dos setubalenses.
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O mesmo espírito que impediu a Rainha D. Amélia de fazer uma estância real de repouso no Forte do Outão. A recepção foi tão desagradável que ela virou costas e nunca mais voltou a Setúbal, cedendo as instalações para um sanatório para a tuberculose óssea, depois transformado em Hospital Ortopédico, donde também se tem uma visão deslumbrante do Estuário do Sado.
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Num levantamento que fizemos do património edificado do Município de Setúbal tive ocasião de visitar as obras incompletas do que seriam as instalações reais, fechadas ao público.
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A panorâmica vista do Forte e as acácias em flor na Avenida 5 de Outubro, que me faziam lembrar Luanda tiveram um peso enorme na minha fixação em Setúbal, de que falo noutros posts.
Hoje Setúbal, com a gestão da CDU, ganhou vida, beleza e dinamismo. As letras que se seguem são um registo de 1997 e reflecte a gestão do PS/Mata Cáceres (1985 / 2001).
À esquerda o Forte de S. Filipe e à direita a baía de Luanda
De Setúbal falei nas linhas anteriores. Mas a cidade de hoje [1997] nada tem a ver com aquela que me encantou, ponto de passagem dum estudante universitário de Angola exilado em Évora a caminho de Lisboa ou do Porto. Setúbal era a Avenida 5 de Outubro, com acácias floridas e as miúdas em bando, era o estuário do Sado visto do Forte de S. Filipe, era o Castelo de Palmela visto de qualquer ponto da cidade tal como o estuário do Sado com a Serra da Arrábida ao fundo. Setúbal era também o enorme paredão ribeirinho cheio de carros ao entardecer ou de pescadores de cana, com o pôr do sol sempre variado espelhado nas núvens ou cintilando nas águas do rio. Setúbal eram as praias, o desejo das praias que se vieram a revelar desagradavelmente frias e de acesso difícil.
Luanda - Fortaleza de S. Miguel
As acácias floridas, rubras ou roxas, a luminosidade do ar e o céu azul faziam lembrar Luanda, tal como o Estuário do Sado, visto do Castelo de S. Filipe, assemelhava à Baía de Luanda vista da Fortaleza de S. Miguel, com a península de Tróia confundindo se com a Ilha do Cabo.
Luanda - Fortaleza de S. Miguel
Uma cidade são as pessoas, as pedras, as casas e a paisagem circundante. Mas as pessoas de Setúbal revelaram-se uma desilusão. A cidade reúne a dimensão humana das distâncias dentro de si própria das cidades pequenas com o individualismo das grandes cidades onde cada um trata de si, sem a solidariedade dos vizinhos mas, paradoxalmente, com a coscuvilhice e maledicência destes: todos sabem de todos mas cada um trata de si. Nada da camaradagem que encontrei entre as gentes do Barreiro!
Setúbal - Avenida 5 de Outubro - Primavera
Setúbal, destruída pelo terramoto de 1755 e rapidamente reconstruída, do passado pouco conserva. E o pouco que tinha em edifícios está em ruína e demolição aceleradas. Se é verdade que o Marquês de Pombal não veio a tempo de reconstruir a cidade ao jeito racionalista, Mata Cáceres, o Presidente sucialista desde 1986 tem sido um terramoto que permite que a memória da urbe seja arrasada: moinhos de vento, fábricas conserveiras, bairros como o Salgado ou de Santos Nicolau... Persistem, esses sim, os bairros de lata, como o Mal Talhado, da Cova do Canastro, da Monarquina... Se interesse há por estes bairros, não é porque os seus habitantes mereçam melhores condições de vida mas porque se situam encravados em áreas apetecíveis para a especulação urbana. Nos esteiros, as embarcações típicas de outrora apodrecem afundadas no lodo, sem que a Câmara recupere algumas delas, como outras na Península de Setúbal o fazem.
Uma cidade é também o seu traçado e a paisagem circundante. Que resta de Setúbal? O Castelo de Palmela e o Forte de S. Filipe estão encobertos por cortinas de prédios altos, iguais em qualquer cidade e sem nada que a distinga. O mesmo se pode dizer do estuário do Sado e da Serra da Arrábida. A cidade voltou as costas ao rio, que os seus habitantes não desfrutam porque entretanto o porto fluvial vai crescendo e acrescentado à barreira física que já era a linha férrea. À beira rio, o horizonte é cortado e abafado por viadutos e muros gradeados. Lisboa alinda-se e Setúbal desfeia se com o lixo dela proveniente.
É verdade que uma nova camada consumidora surgiu e assim as discotecas e os pubs crescem na parte baixa, sobretudo a poente da Luísa Todi. Mas a vida associativa decresce, os cinemas encerram, a companhia de teatro residente fecha-se em si mesma. Em contrapartida aumentam as situações de marginalização ou exclusão sociais, florescendo as prostituições infantil e feminina, bem como o tráfico e o consumo de droga.
A várzea, solo agrícola fértil, é ocupada paulatinamente por prédios, acabando com as hortas e laranjais que davam origem a doçaria de nomeada. (Notas de Viagem, 1997)
pôr do sol
Setúbal
Castelo de Palmela
Estuário do Sado
Península de Tróia
Setúbal
Capela de S. Filipe
fotos em 2013.08
cerca de 1999
foto MNS
foto JJCF
foto MNS ou JJCF
cerca de 1980
vista aérea em http://roteiro.jmobp.com/View/RoteiroView1.php?opcao=3&accao=65&id=2098&tipo=45&area=14#street
As fotos de Luanda são reprodução de postais ilustrados
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Uma Photographia por si só vale por mil palavras?