segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Jardins e antiga Fábrica de Pólvora de Barcarena

* Victor Nogueira (texto de fotos)




A fábrica

O fabrico da pólvora em Barcarena e a produção de armas nas Ferrarias d’El Rei iniciou-se no reinado de D. João II.

A partir do século XIX foi especialmente destinada ao fabrico das pólvoras negras, à manufactura dos artifícios pirotécnicos e ao carregamento dos cartuchos.

Enquanto Fábrica de Pólvoras Físicas e Artifícios (de 1927 a 1947) sofreu o seu maior incremento, com a aquisição de nova maquinaria, modernizou o seu laboratório, estreitou a cooperação com as escolas práticas do Exército, produziu diversos tipos de pólvoras de caça e militares, bem como rastilhos e todo o tipo de artifícios e engenhos aplicados à nova maquinaria de guerra.

Em 1976, a Fábrica reabriu já com grandes dificuldades económicas, para produzir pólvora de caça, até que em 1985 passou a fazer parte da INDEP, EP – Indústrias Nacionais de Defesa, Empresa Pública, criada em 1980 acabando por encerrar definitivamente a sua actividade, em 1988.

Em 1995 a Câmara Municipal de Oeiras adquiriu as instalações, que foram abertas ao público a partir de 1998, com um núcleo museológico, cafés e jardins frondosos. Aqui se realiza o Festival 7 Sóis 7 Luas.

O núcleo onde se fabricava a pólvora está cercado de altos muros, como se fosse uma fortaleza e possui uma capela e guaritas, sendo adjacente à Ribeira de Barcarena, cujas águas faziam rodar a roda duma azenha que movimentava as mós que trituravam a pólvora. Adjacente e em casas térreas, nas imediações,  se situava o bairro operário. Frequentes eram as explosões que provocavam mortos entre os operários.

Desta feita a entrada realizou-se por outro local, atravessando a zona arborizada e uma das pontes sobre a ribeira.



A povoação

Vista de Leceia e mesmo doutros pontos, o que sobressai em Barcarena é a sua enorme igreja, de S. Pedro, no centro da povoação, com um adro com vista para a ribeira e para um pequeno jardim público, bem como o edifício que foi do quartel dos Bombeiros Voluntários. O primitivo templo foi destruído pelo terramoto de 1755, que na área de Oeiras e Paço d'Arcos provocou grandes prejuízos. Uma outra igreja, arruinada e em processo de recuperação, a capela de S. Sebastião, protector das pestes e dos artilheiros, caracteriza-se por dois corpos, o anterior cilíndrico e o posterior de secção rectangular. No centro algumas casas antigas demonstram a importância doutrora. Mais para a extrema, a sul, um cemitério. 

A povoação é atravessada pela malcheirosa ribeira do mesmo nome (ou de Agualva) e a sua zona central é incaracterística e confusa, nela sobressaindo o edifício dos bombeiros voluntários, estilo Estado Novo, com alpendre de arcada na fachada central.  

Perto de Barcarena, à entrada de quem vem de Porto Salvo, em Ribeira Abaixo, à sombra da igreja lá no alto, um tanque coberto para a lavagem de roupa, junto aos canaviais que marginam cá em baixo a ribeira de Barcarena Perto de Barcarena e de Tercena situa‑se a desactivada fábrica de pólvora  que vem dos tempos do senhor D. Manuel I, cuja reutilização está em curso, incluindo a criação dum espaço museológico. Esta fábrica deu alguma importância a esta povoação, relarivamente às circunvizinhas.

Nas cercanias da fábrica, perto da ponte que atravessa a ribeira, encontram‑se a Quinta da Ponte (na Estrada de Leceia) e a Quinta de S. Miguel (na Estrada do Cacém), esta em estilo romântico (manuelino), oitocentista. Por estas bandas os caminhos são vicinais, estreitos, tortuosos e bordejados por altos muros. 

Tudo tem ainda um ar rural e verdejante, abundando oliveiras e algumas figueiras, contrastando gritantemente com os viadutos e autoestradas que cada vez mais cruzam esta região. De Barcarena para norte parte uma rua estreita e curvilínea, rumo a Tercena, com algumas casas mais nobres, uma das quais tem na sua fachada um colorido painel de azulejos representando o Palácio da Pena em Sintra. Já fora da povoação, na estrada municipal 578 e á direita encontramos a Quinta do Sobreiro, do século XVII, debruçada sobre o vale, murada, mas permitindo ver uma escadaria exterior dando para uma varanda de alpendre, coberta, no 2º piso (loggia).

Daqui avistamos os campos cultivados e, mais para lá, a mole imensa e "urbana" de Cacém. (Notas de Viagem, 1997)














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entre oeiras e lisboa, na primavera

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