* Victor Nogueira (texto de fotos)
A fábrica
O fabrico da pólvora em Barcarena e a produção de armas nas
Ferrarias d’El Rei iniciou-se no reinado de D. João II.
A partir do século XIX foi especialmente destinada ao fabrico
das pólvoras negras, à manufactura dos artifícios pirotécnicos e ao
carregamento dos cartuchos.
Enquanto Fábrica de Pólvoras Físicas e Artifícios (de 1927 a
1947) sofreu o seu maior incremento, com a aquisição de nova maquinaria,
modernizou o seu laboratório, estreitou a cooperação com as escolas práticas do
Exército, produziu diversos tipos de pólvoras de caça e militares, bem como
rastilhos e todo o tipo de artifícios e engenhos aplicados à nova maquinaria de
guerra.
Em 1976, a Fábrica reabriu já com grandes dificuldades
económicas, para produzir pólvora de caça, até que em 1985 passou a fazer parte
da INDEP, EP – Indústrias Nacionais de Defesa, Empresa Pública, criada em 1980
acabando por encerrar definitivamente a sua actividade, em 1988.
Em 1995 a Câmara Municipal de Oeiras adquiriu as instalações,
que foram abertas ao público a partir de 1998, com um núcleo museológico, cafés e
jardins frondosos. Aqui se realiza o Festival 7 Sóis 7 Luas.
O núcleo onde se fabricava a pólvora está cercado de altos muros, como se fosse uma fortaleza e possui uma capela e guaritas, sendo adjacente à Ribeira de Barcarena, cujas
águas faziam rodar a roda duma azenha que movimentava as mós que trituravam a
pólvora. Adjacente e em casas térreas, nas imediações, se situava o bairro operário. Frequentes eram as explosões que provocavam mortos entre os operários.
Desta feita a entrada realizou-se por outro local,
atravessando a zona arborizada e uma das pontes sobre a ribeira.
A povoação
Vista de Leceia e mesmo doutros pontos, o que sobressai em Barcarena é a
sua enorme igreja, de S. Pedro, no centro da povoação, com um adro com vista
para a ribeira e para um pequeno jardim público, bem como o edifício que foi do
quartel dos Bombeiros Voluntários. O primitivo templo foi destruído pelo
terramoto de 1755, que na área de Oeiras e Paço d'Arcos provocou grandes
prejuízos. Uma outra igreja, arruinada e em processo de recuperação, a capela
de S. Sebastião, protector das pestes e dos artilheiros, caracteriza-se por
dois corpos, o anterior cilíndrico e o posterior de secção rectangular. No
centro algumas casas antigas demonstram a importância doutrora. Mais para a
extrema, a sul, um cemitério.
A povoação é atravessada pela malcheirosa ribeira
do mesmo nome (ou de Agualva) e a sua zona central é incaracterística e confusa,
nela sobressaindo o edifício dos bombeiros voluntários, estilo Estado Novo, com
alpendre de arcada na fachada central.
Perto de Barcarena, à entrada de quem vem de Porto Salvo, em Ribeira
Abaixo, à sombra da igreja lá no alto,
um tanque coberto para a lavagem de roupa, junto aos canaviais que marginam cá
em baixo a ribeira de Barcarena Perto de Barcarena e de Tercena situa‑se a desactivada fábrica de pólvora que vem dos tempos do senhor D.
Manuel I, cuja reutilização está em curso, incluindo a criação dum espaço
museológico. Esta fábrica deu alguma importância a esta povoação, relarivamente
às circunvizinhas.
Nas cercanias da fábrica, perto da
ponte que atravessa a ribeira, encontram‑se a Quinta da Ponte (na Estrada de
Leceia) e a Quinta de S. Miguel (na Estrada do Cacém), esta em estilo romântico (manuelino), oitocentista. Por estas
bandas os caminhos são vicinais, estreitos, tortuosos e bordejados por altos
muros.
Tudo tem ainda um ar rural e verdejante, abundando oliveiras e algumas
figueiras, contrastando gritantemente com os viadutos e autoestradas que cada
vez mais cruzam esta região. De Barcarena para norte parte uma rua estreita e
curvilínea, rumo a Tercena, com algumas casas mais nobres, uma das quais tem na
sua fachada um colorido painel de azulejos representando o Palácio da Pena em
Sintra. Já fora da povoação, na estrada municipal 578 e á direita encontramos a
Quinta do Sobreiro, do século
XVII, debruçada sobre o vale, murada, mas permitindo ver uma escadaria exterior
dando para uma varanda de alpendre, coberta, no 2º piso (loggia).
Daqui avistamos os campos
cultivados e, mais para lá, a mole imensa e "urbana" de Cacém. (Notas de Viagem, 1997)
mais fotos em
entre oeiras e lisboa, na primavera
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