* Victor Nogueira
Há paisagens que me agradam - as planuras do alentejo e da beira baixa, a serra algarvia, a beira-mar, as penedias. Há terras que me conquistaram: tavira, silves, mértola, porto, lisboa, alcoutim, caminha, coimbra, s. pedro de rates, leiria, alcácer do sal, alcochete, lamego, aljubarrota, mirandela, viana do castelo, arcos de valdevez, nazaré e o sítio, muitas das antigas vilas dos coutos de alcobaça e a própria vila homónima, chaves, lindoso e os seus espigueiros, ponte da barca e ponte de lima, inúmeras vilas e aldeias da beira baixa e muitas vilas do alto alentejo. Há populações que me encantaram: as das aldeias do alentejo (onde antes do 25 de abril aprendi a dizer a palavra amigo), as das povoações da beira baixa ou de trás os montes, as da covilhã, barreiro e lamego. E deslumbramentos ? Foram poucos: o pôr e o nascer do sol (vistos de km de altitude, num avião, nas minhas viagens de e para luanda), lisboa em fiadas de luzes cintilantes (qd o avião aterrava à noite ou qd se regressa pela auto-estrada do oeste), o céu coalhado de estrelas luzentes (no terraço duma vila alentejana - beringel), a nave branca e despojada da igreja do mosteiro de alcobaça. E o santuário do cabo espichel.
Das fotos que tenho digitalizadas, as que se seguem falam do castelo de sesimbra e do cabo espichel, promontório sacro como os antigos os consideravam.
as 4 fotos de autoria do meu tio J J Castro Ferreira são do passado milénio. Todas as restantes, coloridas, são de minha autoria, salvo indicação em contrário.
1997
Sesimbra e Cabo Espichel
Sesimbra fica no cabo do Mundo e o seu castelo avista-se, imponente, ao longe e, no seu interior, como em Santiago do Cacém, existe um cemitério. A vila situa-se no fundo duma enseada, guardada por um forte. As ruas são íngremes, estreitas, com restaurantes quase porta sim porta não, para turistas, e dispõem-se paralelas ao mar, ao longo da encosta, convergindo para a praia. O colorido das traineiras reflecte‑se nas águas do Oceano Atlântico.
A alguns quilómetros de Sesimbra, situa-se o Santuário do Cabo Espichel, após atravessar um deserto árido, desabrigado, frio e ventoso, de vegetação raquítica e rasteira.
Cabo Espichel - Cruzeiro e Casa da Água. Arcadas. Ermida da Memória, de cúpula boleada. Santuário de N. Sra do Cabo ou da Pedra da Mua, do século XVIII. Hospedarias laterais no terreiro, com arcadas, sobrados e lojas. Ao fundo a Igreja.
A Igreja, com uma grande colecção de ex-votos, situa-se no topo dum amplo terreiro rectangular, ladeado no seu maior comprimento, por duas fiadas de casas com arcadas, que outrora albergavam os peregrinos e hoje estão na sua maioria degradadas, nalgumas se comercializando corais, conchas e artesanato de conchas e escamas de peixe. Para lá do terreiro e da igreja, após as ruínas de alguns edifícios, outro descampado, com uma pequena capela quadrada e com uma espécie de cúpula, á beira do precipício alcantilado. Mais além, noutro pedaço de terra que entra pelo mar dentro, um farol.
No Cabo Espichel descobriram‑se pegadas de dinossauros e no caminho para Sesimbra, no Zambujal, uma gruta com estalactites e estalagmites, que a selvajaria dos "visitantes" depredou com a mania das memórias ou recuerdos. (Notas de Viagem, 1997)
2011 - 2013
Antes da subida, que fazemos de carro, numa pequena rotunda desgraciosa, a estátua de D. Sancho I, que parece do Cutileiro mas não deve ser. No cimo da encosta as muralhas da antiga povoação e, numa extrema alcantilada, o castelo (com uma exigua praça de armas) da povoação que d. sancho I reconquistou aos árabes ou berberes, (ou mouros, como a história os designa), que sofreu graves danos com o terramoto de 1755. Dos edifícios do povoado nada resta salvo a igreja (de Nossa Senhora do Castelo, reedificada no século XVIII, há poucos anos restaurada da ruína), com altar de talha dourada e azulejos historiados, também do século XVIII.
Do castelo, pequeno, além das muralhas e da não imponente torre de menagem, ainda restam a cisterna e vestígios duma porta ou janela do que foi o paço do alcaide. Dentro das muralhas um cemitério, tal como em Santiago do Cacém. Da torre de menagem avista-se o oceano, os campos e montes em redor, o farol do cabo espichel e, lá ao fundo, bem ao fundo, aninhada na encosta, à beira-mar, a vila de sesimbra, outrora designada Ribeira de Sesimbra, que se desenvolveu a partir do século XVI, protegida dos corsários pelo forte construído no séc XVII e que foi uma das estâncias de veraneio real.. Na torre de menagem existe uma série de painéis ilustrados referindo a vida no castelo e na vila medievais, intra-muros, para além, duma cronologia.
O próximo objectivo é o cabo espichel, após atravessarmos um ermo, planura ventosa na serra da azóia, de vegetação rasteira e muito poeiredo. O deslumbramento é, depois de ultrapassarmos o aqueduto e a mãe de água, desembocarmos no terreiro da igreja, ladeado por dois corpos paralelos com arcadas térreas (a Casa dos Círios, construída no século XVIII), que foram as hospedarias dos peregrinos ao Santuário de Nossa Senhora da Pedra da Mua. Hoje estão quase todas as portas e janelas emparedadas, muitos troços já sem telhado, embora nalguns sobrados existam lojas que vendem artesanato, conchas variadas, corais e fósseis. Aliás a lenda da Nossa Senhora da Mua (Mula) funda-se em pegadas da sua mula que não são senão trilhos de dinossauros, que nunca avistei. Na igreja há uma interessante colecção de ex-votos, ingénuas pinturas populares relatando milagres ou graças concedidas por intercessão de santos ou da Virgem. Para além disto são de referir a talha dourada, a estatuária e as pinturas, incluindo as da abóbada.
Á Sra. do Cabo afluem numerosos grupos de círios (grandes grupos de peregrinos). É a um desses Círios que se deve a construção do santuário, de acordo com uma lápide que informa: "Casas de N. Sra. de Cabo feitas por conta do Sírio dos Saloios no ano de 1757 p. acomodação dos mordomos que vierem dar bodo".
Junto às hospedarias ficam as ruínas cada vez mais arruinadas, esventradas, da "Casa da Ópera", edificada em 1770; tinha animação cultural, sobretudo teatro, para os romeiros e festeiros, sendo na altura muito utilizada em espectáculos promovidos pela família real, que no santuário também se mantinha durante todo o período de romaria. Por detrás da Igreja um descampado, com a ermida da Memória, pedregoso e naturalmente ventoso, do qual se avistam as penedias estratificadas a norte e a sul (com o farol) e as respectivas enseadas, rendilhadas com o branco das ondas, para lá das quais se estende o mar azul, brumoso a norte, límpido a sul e para ocidente
O adro da Ermida da Memória constitui um pequeno miradouro com vistas deslumbrantes, designadamente para a praia dos lagosteiros e os trilhos de dinossauro, que se não vislumbram à vista desarmada. As pinturas interiores e os 2 painéis de azulejos exteriores (narrando a lenda da senhora) encontram-se bastante degradados. Esta ermida medieval foi erguida no local onde teria aparecido a imagem da Senhora da Mua, agora recolhida na Igreja do Santuário.
Duas romarias se realizam nesta terra que pertenceu à Ordem Militar de Santiago e foi centro pesqueiro e de construção naval: para além da Festa do Cabo Espichel, realizada anualmente no último fim-de-semana de setembro, há uma outra em homenagem aos pescadores de sesimbra, as Festas do Senhor Jesus das Chagas, de 24 de Abril a 5 de Mai,cuja génese se radica, uma vez mais, na pretenssa descoberta duma imagem, no caso, de Cristo, no séc. XVI.
O Monumento Natural da Pedra da Mua e o Monumento Natural dos Lagosteirosforam criados em 1997 e a partir de 2005 passaram a fazer parte dos limites do Parque Natural da Arrábida, sendo constituídos por pistas com pegadas de Saurópodes.
continua em
entre Vila Nogueira da Azeitão e a Serra da Arrábida
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Uma Photographia por si só vale por mil palavras?