segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Criança sudanesa sobreviveu e fotógrafo suicidou-se



Reportagem faz luz sobre foto de bebé e abutre em 1993
O pai da criança com a foto que ganhou o Pullitzer, fotografado recentemente pelos repórteres do El Mundo
O bebé sudanês fotografado em 1993 pelo sul-africano Kevin Carter, numa foto que ganhou o prémio Pullitzer, não foi afinal vítima do animal.
  • 15h04 - 2011.02.22
Por:B.E.


O fotógrafo foi na altura muito criticado por ter feito o retrato e não ter salvo a criança e acabou por cometer suicídio em 1994. Uma reportagem do jornal espanhol El Mundo, que viajou até ao Sudão, veio agora fazer luz sobre um caso que emocionou o mundo.
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O jornal esteve na aldeia de Ayod, Sudão, 18 anos depois e depois de várias tentativas uma mulher chamda Mary Nyaluak deu a primeira pista sobre a criança, ficando então a saber-se que era "uma menina e não um menino" que se chamava "Kong Nyong e vivia fora da aldeia".
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Dois dias depois, os jornalistas Alberto Rojas  e Núñez Villaveirán chegaram à família da criança. O pai identificou o pequeno e confirmou que na altura se conseguiu recuperar do estado de subnutrição, mas acabou por falecer há quatro anos vítima de "febres".
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Carter suicidou aos 33 anos, em 1994

Criança sudanesa que deu Pulitzer ao fotógrafo Kevin Carter sobreviveu ao abutre

21.02.2011 - 10:51 Por PÚBLICO
O diário espanhol El Mundo foi procurar a criança sudanesa fotografada em 1993 pelo fotojornalista Kevin Carter, que lhe valeu o Pulitzer em 1994. O abutre que esperava pela carcaça do bebé subnutrido afinal ficou sem refeição. Era um menino e só acabou por morrer mais tarde, há quatro anos, de “febres”, contou o pai.
A fotografia que valeu o Pulitzer a Kevin Carter em 1994 
 
A fotografia que valeu o Pulitzer a Kevin Carter em 1994 (DR)

Deve o fotojornalista apenas mostrar a realidade crua através da sua lente ou interferir nela quando a sua consciência assim o exige? Kevin Carter achou que não devia interferir, em 1993, quando fotografou, para o New York Times a imagem de um bebé do Sudão, caído no chão, enquanto no mesmo plano um abutre esperava pacientemente pela refeição. Não salvou a criança e o mundo, que deu o bebé como morto, criticou-o e chamou-lhe a ele próprio abutre. Carter acabou por ganhar o prémio Pulitzer com esta imagem que o perseguiu e o levou ao suicídio aos 33 anos.

Afinal, conta este fim-de-semana o El Mundo, o bebé era um menino, chamava-se Kong Nyong, e sobreviveu ao abutre. Segundo o jornal espanhol a enfermeira Florence Mourin, que coordenava os trabalhos do programa das Nações Unidas para o combate à fome no Sudão em Ayod, o local onde tudo aconteceu, que o menino estava a ser acompanhado, como prova a pulseira branca na mão direita, que se podia ver na fotografia premiada. Uns tinham a letra T nas pulseiras, para casos de subnutrição grave. Outros tinham a letra S, quando precisavam de suplementos alimentares. Kong, que tinha marcada na pulseira a inscrição T3, sofria de subnutrição grave, foi o terceiro a chegar ao centro das Nações Unidas. E sobreviveu, conta Florence ao El Mundo, que foi até Ayod para reconstituir, 18 anos depois, a história daquela imagem.

Kong viveu até 2007, depois morreu de “febres”, contou o pai do menino.

Carter, que com Ken Oosterbroek, Greg Marinovich e João Silva - o fotojornalista lusodescendente que perdeu as pernas num acidente no Afeganistão em Outubro passado - fundaram o Bang Bang Club, movimento que denunciou, pela fotografia, os crimes do apartheid na África do Sul, entregou-se às drogas e acabou por se suicidar, tinha 33 anos. Em Abril de 1994, pouco depois do anúncio do Pulitzer, Osterbroek morreu, baleado, quando fotografava um tiroteio em Tozoka, África do Sul, Carter estava ao seu lado. Carter, que era descrito como alguém que profisisonalmente procurava sempre o limite da condição humana, era também arrastado facilmente para a depressão pela força do seu próprio trabalho, contavam os amigos. Dizia que se não fotografasse seria piloto de Fórmula 1, por gostar de viver no limite.

A fome no Sudão matou 600 mil pessoas em 1993. A guerra civil e a seca provocaram no país centenas de refugiados naquela década. O país continua a ser um dos focos de crise humanitária mais graves do planeta.

Notícia corrigida às 21h48
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Comentários 1 a 10 de 10

  1. alexpappamikail . 21.02.2011 21:19
    Via PÚBLICO

    Deve um fotógrafo interferir?

    Numa palavra: SIM! Deixar uma criança para um abutre? Valha-me Deus....
  2. Maria Martins . 21.02.2011 18:40
    Via Facebook

    Mundo miserável....

    Como é possível haver tanta desumanização neste planeta ??? Parece incrível haver tanta indiferença entre os seres humanos......Por mais que tente compreender os humanos....é difícil !...Às vezes os animais que observamos têm melhor comportamento do que certas pessoas que se dizem "civilizadas".....É lamentável !.....Não sei onde vamos chegar com tanta miséria humana ???
  3. Luis Santos . 21.02.2011 17:35
    Via Facebook

    ?????

    Será que num caso como este, o fotógrafo a trabalhar no terreno deve intervir?O que realmente um fotógrafo pode fazer num caso destes?Será dessumano deixá-lo á merçe da morte?"Quem o caminhante do inferno julga,é porque no inferno nunca caminhou"Afinal quem somos nós para o julgar ?
    • Luis Pava , Castelo de Bode. 21.02.2011

      RE: ?????

      Sim, já agora também querem intervir quando os leões andam a apanhar gazelas! Tenham mas é juizo e deixem quietinha a natreza.
  4. José Carvalho , Santarem. 21.02.2011 22:26

    sejamos honestos

    A culpa é toda nossa, nós somos os próprios abutres que na nossa busca incessante das imagens mais degradantes da raça humana, procurando nelas o horror que nos dá adrenalina para podermos ser os maiores herois ou os maiores críticos à face da terra, damos a oportunidade aos grandes grupos que controlam os média de "venderem notícias degradantes, por somas assombrosas". As notícias felizes não dão dinheiro , nem prémios a ninguém. Isto é inerente à raça humana e muito especialmente aos Portugueses que por serem latinos tão depressa rebentam em furias como se esmuncam a chorar por causas de gente que nunca conheceram. Se começarem a atribuir ´prémios a fotos "felizes" esta realidade mudará.
  5. M. , Brasil. 21.02.2011 22:12

    E o resto dos fatos?

    O que esta reportagem não publicou, e que a maioria do público não sabe, é que logo após a imagem ter sido feita, o fotógrafo Kevin Carter afugentou o abutre. Acredito eu que, no momento, espantar o pássaro foi o máximo que ele poderia ter feito. Como já falaram aqui, essa foto ajudou a abrir os olhos da humanidade para problemas graves: fome e miséria. É muito fácil condenar uma pessoa quando só se sabe parte da história. Kevin Carter criou uma foto que devia ser considerada um mérito profissional e pessoal(não pelo sofrimento da criança, óbvio.), onde a mídia a transformou em uma arma e a apontou em sua direção.
  6. Anónimo , Portugal. 21.02.2011 17:13

    Longe dos olhos, longe do coração

    Era suposto ele ter agarrado no puto e leva-lo para casa? O artigo diz que o miúdo estava a ser seguido pelas nações unidas. E muito provavelmente esta foto deve ter gerado algum benefício para os desgraçados lá da zona.
  7. ADias , Amadora, PT. 21.02.2011 17:12

    A minha opiniao!

    O que é facto é que comentar é facil. Atira-se uma baboseira qualquer, por vezes, aliás, quase sempre, por alguém cujo intelecto deixa muito a desejar e que, a moral, também só serve para aplicar aos outros. O que ainda é mais certo e que, pelo trabalho deste foto jornalista, que trouxe a todo o mundo uma fotografia que conta uma história e que, por esse meio alerta para um problema. Essa fotografia ajudou, estou certo, a mobilizar meios e energias para que mais vidas se pudessem salvar. Se as pessoas parassem para pensar antes de comentar com idiotices talvez o foto jornalista nunca se tivesse vindo a suicidar. PS: Nao atirem com a história da liberdade de expressao e que tem o direito de comentar como vos apetece. Isso só serve para dizer idiotices ao abrigo do anoniamato. O foto jornalista tambem tinha o direito de tirar a fotografia e de a publicar.
  8. amag , porto. 21.02.2011 16:54

    pois

    toda a gente sabe como os outros se devem comportar, como se o facto de não estarem lá, no local, os isentasse de culpas. Posições muito cómodas estas.
  9. Vitor Salgado , Guimarães, Portugal. 21.02.2011 16:32

    "Kevin Carter"

    Num trabalho recente realizado para a FBAUP e após vários depoimentos retirados de alguns blogues e jornais apenas posso lamentar o facto de um jornal como o vosso estar a publicar um artigo que considero de alguma forma falso. Aqui fica alguns excertos do texto que elaborei no tal estudo que realizei: "...Na versão de Carter, este momentos antes de tirar a foto sentou-se, tirou um cigarro e disse: “se o abutre abrisse as asas a foto ficaria maravilhosa”. Depois preparou tecnicamente a foto e disparou, tendo em seguida afugentado o abutre e seguido para o seu acampamento."..."chegaram mesmo a comparar Cárter ao abutre que aparece na foto: “um ser que vive espreitando o sofrimento dos outros”. Toda esta polémica e o sentimento de culpa que invadiu o fotografo, levaram o mesmo a pôr termo à sua vida em 1994, deixando na sua carta de despedida o seguinte excerto: “...sou perseguido pela viva lembrança da morte, dor, sofrimento. Pelas crianças famintas (…)”.Kevin Carter era Kevin Carter era um jovem fotografo sul-africano que fazia parte de um grupo intitulado Bang-Bang Club, que tinha entre outras missões divulgar para todo o mundo a crueldade do apartheid sul-africano.
    • Anónimo , gaia. 21.02.2011

      RE: "Kevin Carter"

      Qual é a parte que acha que é falsa? Parece-me que o que diz está de acordo com o texto do artigo.
    • Anónimo , Portugal. 21.02.2011

      RE: "Kevin Carter"

      Tem a certeza que foi um trabalho universitário? Não terá sido para o correio da manhã? É que um trabalho universitário decente convém ser feito com recurso a fontes credíveis...
  10. Anónimo , Mactamã, Portugal. 21.02.2011 14:58

    Hummmm

    Se a criança tivesse servido de alimento ao abutre, em vez de lhe darem o Pulitzer deviam ter-lhe dado com ele. Antes de ser jornalista, é um ser humano com obrigações para com o seu semelhante. Que conste, não fez nada para melhorar a situação da criança. Tal sim, seria merecedor de elogio.
    • Anónimo , Lisboa. 21.02.2011

      RE: Hummmm

      Ai sim? Então qual é o critério para ser obrigado a salvar vidas imediatamente, é a distância? É que tu sabes perfeitamente que todos os minutos morrem crianças em África e estás aí sentado, o que é que faz de ti mais ser humano do que o fotógrafo? O facto de estares a mais metros das crianças do que ele estava exonera-te? Olha, graças a fotos como as dele ficas a saber que isto se passa em África (e, infelizmente, não só), por isso finalmente podes meter-te num avião e ir para lá ajudar todas as crianças conforme essa lengalenga que apregoas... Comentários moralistas feitos atrás de um computador numa sala com ar condicionado são muito fáceis de fazer mas não ajudam ninguém. Citando uma frase de um filme "a força das tuas convicções são um luxo reservado àqueles que assistem a tudo das bancadas"
    • Anónimo , Guimarães. 21.02.2011

      RE: Hummmm

      Se leu o artigo então sabe que o jornalista acabou por se suicidar.
    • Anónimo , paris. 21.02.2011

      RE: Hummmm

      Fácil atirar a primeira pedra. Reparou na frase "A fome no Sudão matou 600 mil pessoas em 1993."
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Uma Photographia por si só vale por mil palavras?