Nahima Maciel
Publicação: 09/11/2010 08:00 Atualização: 09/11/2010 09:12
A noiva dissimulada, de Rosa Leite: imagem que escapa da moralidade tradicional |
Wanderson França quis dar fôlego maior aos exercícios de fotogramas e descobrir se era possível explorar a técnica com maior profundidade. “O fotograma é uma forma de aprender o processo fotográfico, normalmente é um exercício e, depois que a gente aprende, deixa de lado. Por isso, para mim, é um desafio fazer um trabalho de arte assim”, explica. Objetos pessoais serviram de referência. França trouxe a própria coleção de guardados para a superfície do papel fotográfico.
No fotograma, a luz sensibiliza diretamente o papel sem a presença de um negativo. Assim, as formas dos objetos deixados na superfície durante a exposição acabam reproduzidas. O papel exposto à luz fica negro durante a revelação, enquanto a parte protegida ou coberta pelo objeto permanece branca. Em Miscelânea e Motopsycho, França cria uma narrativa subjetiva graças à disposição de objetos como uma lâmpada queimada, cápsulas de remédios psiquiátricos, fitas cassete e bonecos de plástico. “A motocicleta foi usada como metáfora do caminho percorrido na vida e as cápsulas são como obstáculos a serem superados. Sem querer, quando vi o trabalho depois de pronto, percebi que fui criando uma história linear.”
Rosa Leite também utilizou objetos para sensibilizar o papel nos fotogramas de O imaginário da Rosa a partir de 1,99. Comprou tudo em lojas de R$ 1,99 e montou uma narrativa na qual pudesse explorar a temática da perversidade. “Isso vem de uma brincadeira do não querer lidar com a moralidade tradicional. O imaginário que proponho foge dessa moralidade”, explica. A brincadeira de Luciano Machado também envolve desenhar com luz, mas dessa vez os corpos são protagonistas, e não os objetos. Exposições longas ajudam o artista a imprimir diversos movimentos de um mesmo personagem. São vestígios deixados por modelos nus sobre fundo branco.
Sarah Lima é a única que traz imagens já prontas. Herança é uma coleção de fotografias de família penduradas em um varal como se fossem a coleção de memórias não vividas de Sarah. Ela não aparece em nenhuma das imagens porque ainda não havia nascido quando foram feitas. Os registros se tornaram um fetiche exatamente por isso. “Tenho paixão pelas fotos de minha família feitas nos anos 1980, antes de eu nascer. Com o tempo percebi que era o desejo de participar dessas cenas”, conta. Sarah partiu então para uma investigação da memória herdada. “Até que ponto o que nos foi contado realmente aconteceu?”, questiona. “Essas memórias fazem parte da minha vida pelo relato."
Fotossenssível
Exposição de Rosa Leite, Luciano Machado, Wanderson França e Sarah Lima. Visitação até 27 de novembro, de segunda a sexta, das 9h às 19h. Sábado, das 9h às 13h, na Galeria Espaço Piloto (Ed. Oficinas Especiais, Bloco A, UnB)
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Uma Photographia por si só vale por mil palavras?