sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Albert Watson Profissão: fotógrafo

Albert Watson

Profissão: fotógrafo

Público - 18.12.2009
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Por: Simone Duarte, em Nova Iorque
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É difícil acreditar que Albert Watson é cego de um olho desde que nasceu. Considerado um dos 20 fotógrafos mais influentes de todos os tempos, fez algumas das imagens mais mediáticas das últimas quatro décadas. Quem é que ainda não foi fotografado por ele?
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Pode nunca ter ouvido falar em Albert Watson mas já viu uma das suas fotos. Alfred Hitchcock foi a primeira celebridade capturada pelas lentes da câmara deste escocês de Edimburgo radicado em Nova Iorque. Foi em 1973 para a capa da "Harper's Bazaar". A imagem do cineasta britânico, que também era um grande "chef", a segurar um ganso morto representou uma viragem na carreira de Watson, que se mudara anos antes para os EUA com a mulher e os dois filhos. Mais de 40 anos depois, a questão é: quem é que ainda não foi fotografado por Albert Watson?.
Bill Clinton, Kate Moss, Clint Eastwood, Michael Jackson, Uma Thurman, Mick Jagger, Andy Warhol, Nicole Kidman, David Lynch, Naomi Campbell, Jack Nicholson, David Bowie, Cate Blanchett, Spike Lee, Scarlett Johansson, a Rainha Isabel II (Watson foi o fotógrafo oficial do casamento do Príncipe André e Sarah Ferguson). A lista parece infindável. .

São mais de 250 capas da "Vogue". Sem contar com os trabalhos para a "Rolling Stone", a "Vanity Fair", a "Time", a "Harper's Bazaar"... E ainda 600 anúncios para TV. Mas o convívio com tantas celebidades não parece ter alterado uma das maiores características do fotógrafo: a simplicidade. São 18h30 de uma noite fria em Manhattan e Watson chega atrasado ao seu estúdio em Tribeca. Veio de um "casting" para um novo trabalho. Pede desculpas. Não gosta de chegar atrasado..

A célebre foto de Kate Moss, nua, agachada, tirada em Marrocos está numa das paredes. Watson explica que esta grande sala vai ser transformada em galeria. Sentamo-nos à mesa onde o filho Aaron deixou os três livros do pai e publicações com algumas das fotos tiradas ao longo das últimas décadas. Nas salas de trás estão armazenados milhares de negativos. Começamos a conversar sobre a fotografia de Mick Jagger em que o vocalista dos Rolling Stones aparece como um leopardo. A foto integra a exposição do Museu de Brooklyn "Who Shot Rock & Roll: A Photographic History, 1955 to the Present".
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Nos últimos 17 anos já falou inúmeras vezes sobre esta foto de Mick Jagger mas é inevitável perguntar, principalmente nos dias de hoje em que todos acham que tudo é obra do Photoshop: como teve a ideia? 
O mais interessante é que esta não era a intenção inicial. A ideia era fotografar Mick a conduzir um Corvette com um leopardo ao lado. Algo surreal e estranho. Estava tudo combinado mas no momento o treinador do leopardo achou perigoso e decidiu que era melhor arranjar uma divisória de vidro para separar os dois. Enquanto esperávamos tive a ideia de fazer uma dupla exposição. Perguntei ao Mick, já o tinha fotografado outras vezes, e ele concordou. Primeiro fotografei o leopardo. 12 poses. Fiz várias exposições, muita luz, menos luz, normal, pouca luz. E anotei cada uma. A cor que prevalece no rosto do leopardo é o branco, claro, com as pintas negras. A pele de Jagger também é muito branca. Depois marquei no "viewfinder" o contorno do animal, o formato dos olhos, nariz, boca. Rebobinei o filme e fotografei Jagger na mesma posição, com exposições contrárias às que fizera com o leopardo. Das 12, quatro ficaram boas, três perfeitas. Mas só vim a saber depois. Quando a divisória do carro ficou pronta prosseguimos com a sessão de fotos. Quando fui revelar e vi como as fotos tinham ficado (tive muita sorte porque os olhos encaixaram perfeitamente e a parte de cima dos lábios também), revelei uma e mandei para a revista. Toda a gente adorou.
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E qual foi a reacção de Mick Jagger ?
Tivemos um pequeno problema. Mandámos a foto para Mick, que estava em Los Angeles. Ele viu rapidamente e deu o OK. Na manhã seguinte tinha três chamadas dele, eu só pensava "será que ele mudou de ideias?" Afinal, queria usar a foto para a capa do novo álbum, mas era tarde de mais. A fotografia já tinha sido enviada para a revista. 
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Existe alguma diferença entre fotografar Mick Jagger ou Kate Moss, ou aquela rapariga desconhecida que está nesta foto atrás de si [na parede, uma foto recente de uma menina num jardim]?
Não. Trato todos de modo igual. Há mais stress quando se trata de uma celebridade. Por mais amigável, simpática, maravilhosa e fácil que uma celebridade seja [imita "uma celebridade" com gestos, mexe os braços: "O que quer que eu faça, que eu sorria?"], há mais stress. Ainda que hoje para mim não faça diferença. Olhe aqui este livro sobre Marrocos [folheia o seu livro de fotos sobre o país]: trato estas pessoas do mesmo modo que as "celebridades". Não importa se é uma criança no meio da rua. Estou completamente com ela como estou com um "famoso". Fotografo tudo: paisagens, carros, celebridades, desconhecidos... Fotografar uma celebridade tem uma grande vantagem e uma grande desvantagem: uma fotografia de Kate Moss é logo reconhecida porque é a Kate Moss, mas quando fotografo o rosto de uma mulher mais velha, como esta em Marrocos, quem vê a foto presta atenção à textura, à composição...
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E quando é que a fotografia se transforma em arte? [Albert Watson, com Richard Avedon e Irving Penn, fez a transição das capas de revistas de moda para os livros de arte...]
A fotografia pode percorrer viagens distintas. Uma fotografia pode ser para uma revista, para um livro, para uma galeria e para um museu. Eu entrei logo para este mundo da moda, das revistas, da "Vogue", da"Vanity Fair", às vezes da "Rolling Stone"; fiz posters de filmes como "Kill Bill", "Memórias de uma Gueisha", "O Código Da Vinci"... mas no fundo fui, sou e serei sempre fotógrafo. Não um fotógrafo de moda mas um fotógrafo que tira também fotos de moda. Às vezes os editores das revistas reclamam que as minhas fotos têm força a mais. E talvez tenham razão. Quando comecei, nos anos 70, andava com a minha Nikon na mão, tirava fotos das raparigas a sorrirem [volta a gesticular e a imitar], a segurarem o gelado, a cairem na piscina, a olharem para a câmara, a beijarem um rapaz... Nos anos 80 o meu trabalho mudou. Lembro-me de uma capa para a "Vogue" italiana, a foto da modelo com a cara coberta por um pano. O editor perguntou-me se eu não podia mostrar o rosto dela. Não foi chegar um dia e dizer: "tchum, tchum, tchum... Sou um fotógrafo". Quando eu tirava as fotos das jovens modelos com gelados, gostava de ver o meu nome na foto mas depois deixou de ter importância e as fotos foram ficando mais definidas, mais fortes, mais expressivas e mais monumentais - não "monumentalmente" boas mas "monumentalmente" mais fortes, mais poderosas, mais pesadas... O que faz uma fotografia transformar-se em arte? A sua longevidade. Ela pode ser vista em Julho, em Outubro ou daqui a anos e ainda tem a mesma força.

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Outra foto com destaque na exposição é a de Michael Jackson. De novo nada de Photoshop...
Curioso. Noutro dia num blogue alguém comentou que não gostava da foto porque criava uma ilusão óptica, mas foi justamente por isso que fiz a foto. O meu trabalho é resultado dos meus quatro anos de desenho gráfico e de três anos na escola de cinema. Nesta foto usei oito espelhos para fotografar Mickael Jackson. Era para a capa do "Invincible" mas não chegou a ser usada. 
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O que significa ter sido considerado um dos 20 fotógrafos mais influentes de todos os tempos?
Sempre tive e tenho uma enorme paixão por fotografia. É uma obsessão. Aliás só resulta se formos obcecados. Noutro dia um jovem fotógrafo disse que queria ser igual a mim. Posso ter à minha frente uma mulher ou uma paisagem: as imagens têm a mesma força e o mesmo interesse. O seu gravador, por exemplo: fotografá-lo-ia sobre uma superfície de aço, você poderia preferir que eu o colocasse sobre uma toalha vermelha com flores. Eu até poderia tentar mas não deixaria de fazer o que tem sentido e é verdadeiro para mim.
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Porque decidiu ser fotógrafo?
Tinha um certo interesse por fotografia. A primeira vez que segurei uma câmara e olhei pelo "viewfinder" fez sentido. As minhas mãos deslizaram pela máquina e tudo pareceu fácil [interrompe e sorri]. Não escreva, por favor, que fotografar para mim é fácil. O que quero dizer é que sempre tive o desejo de tirar grandes fotos. E quando tive a câmara pela primeira vez nas mãos, tudo pareceu natural. Fez sentido. Mas como qualquer trabalho solitário tem de ser praticado todos os dias da nossa vida. 
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