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Sharbat Gula é um dos rostos mais conhecidos do fotojornalismo do século XX. Afegã, de origem Pashtun, foi uma das muitas órfãs da guerra com a União Soviética (1979-1989). Na sequência da destruição da sua aldeia pelas tropas soviéticas, foi levada para um campo de refugiados, em Nasir Bagh, no Paquistão. Foi aí que o americano Steve McCurry a fotografou, em 1984, tinha ela 12 anos. Em Junho de 1985, a sua imagem surgiu na capa da National Geographic, transformando-se rapidamente num ícone internacional, a ponto de vir a ser considerada "a fotografia mais conhecida" de toda a história da revista (fundada em 1888).
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Na altura, o nome de Sharbat Gula era desconhecido, surgindo apenas referida como "Rapariga afegã". Ao longo dos anos 90, McCurry tentou reencontrá-la e estabelecer a sua identidade. Os seus esforços apenas teriam sucesso depois da queda do governo taliban, em 2001. Foi em Janeiro de 2002 que uma equipa da revista a localizou numa remota aldeia do Afeganistão, para onde tinha conseguido regressar em 1992: com cerca de 30 anos, casada, mãe de três filhas, Sharbat Gula voltou a ser capa da National Geographic em Abril de 2002.
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Esta é uma admirável história das imagens e dos seus espantosos e variados poderes (vale a pena recordar que o caso levou a National Geographic a patrocinar a criação de um fundo internacional de auxílio às crianças afegãs). Em todo o caso, agora não podemos deixar de notar que, na sua dimensão mais artística, e mais especificamente técnica, esta é uma história que não se repetirá. Porquê? Porque Steve McCurry fotografou Sharbat Gula com Kodachrome, uma película que, este ano, a Kodak deixou de fabricar (quase 75 anos depois da sua criação, em 1935). Como se diz agora na terrível linguagem da gestão empresarial: o produto foi "descontinuado".
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Alguns fotógrafos amadores lembrar-se-ão das emoções próprias dos slides em Kodachrome: era preciso enviá-los para a própria Kodak, para revelação (através de um saco/envelope que vinha na embalagem do rolo), e depois esperar... pela volta do correio. O certo é que, em vários formatos fotográficos e cinematográficos (incluindo os lendários 8 mm e Super 8), o Kodachrome marcou o modo como vimos, reproduzimos ou imaginámos as cores do nosso mundo.
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Escusado será dizer que, para além da concorrência de outras marcas (por exemplo: a Fuji, com a película Velvia), o fim da saga do Kodachrome é inseparável da crescente implantação dos formatos digitais, tanto amadores como profissionais. Está por esclarecer quando (ou se...) o digital alguma vez oferecerá a complexidade e subtileza de algumas películas clássicas. Em todo o caso, o pedido ansioso de Paul Simon foi vencido. Foi em 1973 que ele compôs e cantou uma canção intitulada Kodachrome. Celebrando o seu gosto por tirar fotografias ("I got a Nikon camera"), ele implorava à mãe: "Não me tirem o meu Kodachrome". Pois bem, já aconteceu.
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Uma Photographia por si só vale por mil palavras?