Diário do Pará - Domingo, 28/03/2010, 08:51h
Octavio Cardoso fala sobre o seu processo criativo
O dia-a-dia foi me levando para a cor”, conta o fotógrafo paraense Octavio Cardoso. Ele nunca escondeu a predileção pelos tons de cinza. Pelo contrário: foi no P&B que construiu uma celebrada trajetória que já soma mais de duas décadas dedicadas à fotografia. E agora, passados todos esses anos, eis que o artista mergulha pela primeira vez no universo das cores em sua produção autoral e emerge cercado por um azul quase infinito.
A série “Lugares Imaginários”, composta por três fotos, deu a Octavio o Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia na categoria Brasil Brasis. “Eu nunca havia usado a cor no meu trabalho pessoal, mas tem sido cada vez mais difícil trabalhar com P&B, em função da falta de tempo. Ter que ir atrás de filme, revelar, fazer cópia... Fui obrigado a encontrar um caminho diferente, e esse caminho foi trabalhar em digital, pela própria praticidade. Fui experimentando e cheguei até o colorido”, diz. “Só que, enquanto o P&B possibilita um tom mais subjetivo, menos documental à imagem, a cor diz muito, revela muito, é real demais”, pondera.
Segundo Octavio, a distorção da cor na própria câmera fotográfica foi a solução para fugir de tanta objetividade, embora ele acredite que transitar pela fotografia digital exige uma certa cautela, devivo ao perigo permanente de ser engolido por tantos recursos tecnológicos.
“A fotografia digital e colorida corre o risco de virar cartão postal, uma mera exibição de possibilidades tecnológicas, dado o excesso de programas de manipulação e complexidade das câmeras. Penso que os recursos técnicos têm de ser o meio, e não o fim do processo”, diz, enfático.
“Lugares Imaginários”, resultado da Bolsa de Pesquisa, Experimentação e Criação Artística concedida em 2009 pelo Instituto de Artes do Pará (IAP), nasceu de uma viagem pelos municípios de Santarém, São Geraldo do Araguaia e pela Ilha do Marajó. Octavio desplugou da rotina apressada de fotojornalista para encontrar no litoral do Estado o ritmo particular exigido pelo seu processo criativo.
“Preciso estar desligado da rotina para criar. Não posso estar preocupado com problemas como contas a pagar, por exemplo (risos). Eu não consigo imaginar a foto antes de fazê-la, e isso não é uma questão de concentração, mas de predisposição para que a fotografia aconteça. Por isso é que os meus trabalhos são, em sua maioria, fotografias de viagem. Se não existir uma sintonia com o ambiente, uma tranquilidade, não adianta”, conta.
E é exatamente isso: sintonia. Diante do conjunto de fotografias, a sensação é de que somos lentamente absorvidos pela paisagem anil. “Minhas imagens têm um certo silêncio, solidão, espaços vazios. É como se o homem estivesse perdido nessa paisagem, nesse lugar que não existe”, ele diz.
Para Mariano Klautau Filho, curador geral do Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia, o impacto pictórico da série foi o que mais chamou a atenção da comissão de seleção. “O artista integra um grupo seleto de fotógrafos que conseguem aliar sensibilidade e conhecimento técnico apurado”, avalia o curador. “Octavio cria aqui um mundo onírico, uma Amazônia inusitada, distante do padrão exótico que se costuma ver. São imagens de uma beleza realmente impressionante, a partir de cores construídas. Entramos com ele em outro universo, em uma viagem particular dentro desse ambiente”, finaliza.
O Prêmio Brasil Brasis destinou-se especialmente aos trabalhos de abordagem documental voltada ao cotidiano ou resultado de um projeto autoral de documentação.
SERVIÇO:
Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia. Informações e programação completa em www.premiodiariodefotografia.
com.br. (Diário do Pará)
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